Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Em agosto, comentei aqui sobre algumas startups da América do Norte que estão liderando a corrida para proporcionar que qualquer investidor tenha acesso a qualquer ativo no planeta. Pois hoje preciso fazer justiça e mencionar também uma startup europeia que encontrou uma maneira muito interessante de contribuir com essa missão.
A Neufund, de Berlim, nasceu em 2016 com uma visão bastante clara sobre o tipo de aplicação da tecnologia blockchain que gostaria de ver no mundo. Devolver a propriedade às pessoas. Sim, essa é uma cruzada necessária em um mundo de desigualdade extrema e onde o acesso à maior parte das oportunidades é restrito a investidores de alto calibre.
A plataforma da Neufund automatiza e facilita a criação de planos de participação acionária para empregados. Nela, qualquer empresa pode celebrar contratos, dotados de valor jurídico, com seus funcionários. Esses planos são um mecanismo interessantíssimo de reconfiguração da relação da empresa com a sociedade.
Nos EUA, por exemplo, onde há leis que incentivam essa modalidade, mais de 14 milhões de funcionários são sócios das quase 7 mil empresas que a possibilitam. Quando aplicada de maneira a disponibilizar uma participação relevante aos funcionários, ela muda completamente a dinâmica das relações de trabalho, diminuindo a vulnerabilidade da empresa a riscos importantes como rupturas da cultura de trabalho e aquisições agressivas por parte de grandes investidores. Também ressignifica a interação da empresa com outras partes interessadas. E, mais importante, contribui com a redução da desigualdade de renda.
Aliás, no Brasil, temos um fenômeno comparável, que é a profusão de cooperativas que sustentam regiões inteiras e distribuem riqueza como ninguém.
Outro produto da Neufund concorre com startups do Canadá e dos EUA, que já citei na coluna, no ramo do investimento de risco descentralizado. O interessante é que, ao contrário de alguns concorrentes, a empresa não aposta em promover rodadas de investimento em empresas centradas em blockchain, mas, sim, em organizações com missões claras e concretas.
Vale acompanhar o crescimento da Neufund. São organizações como essa, às vezes pouco conhecidas, que causam transformações relevantes.