A prisão de executivos da J&F no final da última semana ajuda a desfazer os temores de que a indicação do juiz Sergio Moro para o Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro pode enfraquecer o combate à corrupção. Na mesma semana, o braço da Lava-Jato no Rio de Janeiro deteve 20 outras pessoas, entre as quais 10 deputados da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj), suspeitos de terem movimentado milhões em pagamento de propinas durante o segundo mandato do ex-governador fluminense Sérgio Cabral (MDB). Em ambos os casos, os desvios para financiar ambições políticas com dinheiro ilícito envolvem quantias expressivas, o que ajuda a explicar a falência do setor público e as deficiências no atendimento à população em áreas essenciais.
Entre os detidos por suspeita de obstrução de justiça no caso da Operação Capitu, deflagrada em Minas Gerais, estão delatores da mais célebre iniciativa de combate à corrupção no país, como Joesley Batista e Ricardo Saud. Incluem-se também políticos mineiros, dois dos quais ex-ministros da Agricultura do governo Dilma Rousseff: Antônio Andrade (MDB) e seu sucessor, Neri Geller (PP). É um fato preocupante, pois demonstra a fragilidade dos controles no setor público. Todos são acusados de se beneficiar de propina distribuída pela gigante do setor de carnes.
De um lado, as prisões frustram por deixarem evidente que a deterioração nas relações entre o setor público e privado é generalizada. Hoje, estendem-se por um número expressivo de Estados e envolvem pessoas ligadas a diferentes partidos. De outro, as detenções ajudam a desfazer teses como a de perseguição política a um ou outro partido e a figuras influentes da vida pública.
O aspecto promissor das novas investidas contra desvio de dinheiro público, porém, é justamente o de reafirmar que a eficiência da operação não depende mais de quem está no comando, pois assumiu vida própria.
A votação dos eleitores nas urnas e movimentos como a indicação do responsável pela Lava-Jato em Curitiba para comandar um superministério no próximo governo reforçam essa expectativa. É preciso que o combate à corrupção, independentemente de quem esteja envolvido, continue a contar com o apoio da maioria dos brasileiros.
ESCLARECIMENTO
Os executivos Joesley Batista e Ricardo Saud são da holding J&F, e não da JBS, como foi publicado originalmente no editorial A resistência da Lava-Jato, de 12 de novembro. A versão atual foi corrigida.