Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Quando as pessoas deparam com o fato de Bolsonaro ter alta preferência entre eleitores com Ensino Superior, duas reações aparecem. Há quem diga que isso demonstra que os mais sábios apoiam o candidato. Há também quem julgue que uma elite dominante, que almeja manter o status quo, vai votar em um conservador. Nenhuma das duas explicações é precisa. Para entender esse fenômeno, precisamos mergulhar na realidade da educação no Brasil.
Transporte-se para uma sala de aula de uma universidade privada das mais baratas, onde a maior parte da população universitária brasileira está. Faça um exame honesto: qual parcela daqueles estudantes está realmente preocupada em aprender, e não apenas em conseguir um diploma? Quantos ali tiveram acesso a uma educação básica melhor do que medíocre?
Essa simples observação derruba as duas explicações. Não são mais sábios do que o restante da população, nem parte de uma elite erudita ou poderosa. Cumprem ali um contrato de mediocridade com a instituição: fingem aprender enquanto a universidade finge ensinar algo relevante. Mais tarde, frustram-se com o mercado de trabalho e com as dificuldades impostas por burocracias, caso decidam empreender.
Na origem dessa situação também está a característica do nosso investimento em educação, que, além de insuficiente, é focado em prover um pequeno número de vagas de Ensino Superior em detrimento da qualidade do ensino básico para todos.
Não digo que os eleitores de Bolsonaro sejam necessariamente desinformados. Pelo contrário, defendo que precisamos nos acostumar com uma política menos erudita, e que a ascensão de Bolsonaro tem a ver com um maior acesso das pessoas à política, o que é uma consequência da democratização. Uma possível interrupção no processo de democratização pode vir a acontecer com Bolsonaro ou com outros candidatos no poder. Ela será, na verdade, uma consequência de uma série de feridas abertas que não resolvemos, inclusive nossa relação com a ditadura e a desigualdade extrema que resiste ao tempo.