Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Na última quarta-feira, 17 de outubro, foi celebrado o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, tema oportuno se considerarmos que metade da população mundial é pobre. No Brasil, a consultoria Tendências divulgou um estudo, este mês, no qual aponta que a pobreza extrema atingiu 4,8% da população em 2017. O critério de corte é de R$ 85 de renda domiciliar per capita — isso significa, por exemplo, que uma família de quatro pessoas vive com menos de R$ 340 por mês. Considere, ainda, que o Brasil tem mais de 5 milhões de pessoas passando fome, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) — no mundo são mais de 820 milhões.
Esses números são vexatórios para o nosso país. São motivo de vergonha e precisam incitar profunda reflexão. Deveriam ser pauta constante no debate político nesta eleição, certo? Mas, infelizmente, não são. Você deve ter percebido que esse tema passa ao largo do debate eleitoral brasileiro. E uma rápida olhada nas redes sociais dos candidatos confirma isso.
Em um projeto de pesquisa que desenvolvemos numa parceria entre a Escola de Negócios da PUCRS e o Data Visualization and Interaction Lab, da Escola Politécnica, monitoramos as postagens em Twitter dos candidatos à Presidência. Neste momento, temos consolidadas todas as postagens dos candidatos no período oficial de campanha do primeiro turno. O candidato Jair Bolsonaro postou pouco mais de 350 tweets neste período; Fernando Haddad registrou mais de 700 tweets.
Buscando identificar nos textos dessa massa de tweets o quanto se falou sobre pobreza ou fome, fica evidente o desleixo para com o assunto no debate público. O candidato Jair Bolsonaro postou apenas três tweets com texto que mencionam o assunto – nenhum versava sobre qualquer proposta. Fernando Haddad postou 19 vezes abordando o tema – a maioria exaltando resultados passados, com apenas um fazendo referência a propostas.
A constatação de que os candidatos não falam sobre pobreza explicitamente está, pelo menos em parte, associada ao fato de que tem prosperado no Brasil a crença de que crescimento econômico resolve a pobreza automaticamente. Isso não é verdade! Em sociedades como a nossa, o crescimento precisa ser acompanhado de um conjunto de políticas que auxiliem o pobre na emancipação por meio da atividade produtiva. E sobre propostas desse tipo há pouca notícia, quase nenhuma.