Por Igor Oliveira, consultor empresarial
A eleição para governador no Rio Grande do Sul tem pouco conteúdo no que diz respeito a propostas. É uma guerra de percepções e preconceitos de todos os lados. Decidimos primeiro em quem votar, para depois achar uma explicação racional para essa decisão. Pouco importam os fatos e dados.
Essa triste realidade aparece em todas as áreas, mas quero chamar atenção para os conflitos de interesse existentes quando se trata da situação fiscal do estado, particularmente da dívida com a União.
Duas estratégias distintas foram usadas pelos últimos governos para criar uma cortina de fumaça em torno do assunto, e estão manifestadas novamente na atual campanha. A primeira estratégia foi negar a existência do problema. Gastar de maneira irresponsável, contando que, algum dia, a situação será resolvida por uma força maior.
A segunda – praticada pelo atual governo – consiste em abusar da gestualidade. Tomar medidas ineficazes para mostrar serviço, sem qualquer efeito positivo relevante. Um dos problemas dessa estratégia é que ela, por vezes, serve aos interesses de correligionários. Quando o governo, por exemplo, elimina cargos públicos e os substitui por cargos comissionados ou contratações emergenciais de empresas privadas, é pouco provável que isso beneficie o contribuinte.
Em ambos os casos, não há interesse em mostrar a situação de maneira transparente à população. Se tivéssemos consciência do tamanho e da natureza do buraco, uma fissura profunda na nossa identidade, não estaríamos tentando ignorá-lo ou passar por ele de bicicleta.
Na origem dessa situação, está a percepção de que as alternativas, em termos de pessoas e ideias para ocupar o poder, são extremamente limitadas, e tudo o que poderia ser tentado já foi tentado. É aquela máxima “em política não há espaço vazio”, combatida no livro recente de Eduardo Rombauer, a ser lançado em Porto Alegre no próximo dia 14. Em lugares como o Rio Grande, onde estamos há séculos patinando em questões tão elementares como nossa relação com a federação, é essencial que voltemos a enxergar a política como um campo fértil para propormos mudanças.