Por Cris Netto, escritora
Ouve-se falar muito em fazer o que se ama. O "propósito de vida" passou a ser tema de muitas palestras e vídeos motivacionais, espalhados pelo mundo virtual. Mas afinal, esse tal de propósito paga os boletos que chegam todo o final de mês? Vale a pena largar o trabalho tipo CLT para buscar o que se ama? Não seria mais fácil amar o que se faz?
Se procurarmos um pouco pela internet, encontraremos diversas opiniões a respeito. Há cerca de cinco anos, o movimento estilo Escolha Sua Vida era sucesso nas redes sociais e a graça era ser um nômade digital. Com acesso à internet e uma passagem aérea no bolso, você poderia ficar milionário e ter a vida que sempre pediu a Deus. Tudo muito bonito, por um ano ou dois.
Já encontramos relatos de pessoas que dedicaram-se a um ano sabático, conheceram diversos países, viveram novas experiências e empenharam-se em viver o momento do ouro da vida com propósito. Contudo, passado esse tempo, sentiram a necessidade de retornar ao país de origem, ao emprego com carteira assinada, à segurança do trabalho formal. A situação política e econômica do país assusta e realmente é o gatilho para a mudança de vida de muitos jovens. Principalmente, dessa nossa juventude de hoje, que parece ter nascido sem paciência e resiliência.
No entanto, nem só de jovens, nem só de velhos insatisfeitos, esperando a aposentadoria para serem felizes, se faz um país. É necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre a liberdade de uma vida nômade e a suposta segurança de um trabalho estilo CLT. Existem diversas correntes que apontam o desenvolvimento pessoal como forma de amar o que se faz, sem necessariamente ter que largar tudo para fazer o que se ama.
O ponto de equilíbrio começa no momento em que baixamos as expectativas em relação ao que queremos e aprendemos a valorizar o que temos. A menos que você viva em uma situação de subemprego, você não chegou até aqui só engavetando sonhos. Se o seu trabalho atual lhe trouxe algum benefício e lhe proporcionou a realização de algum sonho, talvez não seja o caso de jogar tudo para o alto e começar do zero. Se você já sabe andar de bicicleta, não tente redescobrir a roda, apenas mude o caminho.