Por Maria Aparecida Azzolin, doutoranda em Educação - UFSM
Vivemos um tempo de falta de respeito pelas ideias dos outros. Desrespeito em todos os sentidos. O desrespeito está tão gritante, que se o outro (que está sempre errado) se veste de forma diferente da minha (que está sempre certa), ou fala diferente, ama diferente, ora, reza, ou deixa de fazê-lo de forma diferente, defende um candidato diferente do meu, me transformo no Hulk. Então grito, ofendo, bato, mato, explodo ou queimo tudo em volta. (Hulk é um personagem do filme da Marvel Comics, de 2003.)
Para Humberto Maturana, pesquisador chileno, tolerância e respeito são conceitos distintos. Quando sou tolerante, não rechaço ou desvalorizo o outro, apenas espero. Dessa forma continuo não aceitando a legitimidade das ideias do outro, continuo "estando certo", mas fico na paz por um tempo. Mas com a "faca na bota". Se respeito a ideia do outro, escuto-a e reflito sobre ela, aceitando a legitimidade dessa ideia, sem conflitos. Se apenas tolero, sem respeitar, não ouço, porque já aceito que o outro está errado, antes mesmo de ele começar a falar.
A tolerância é um ponto de partida. As dúvidas são necessárias. As verdades absolutas são perigosas. A certeza da verdade serve para justificar a exploração, a violência, a destruição, o fascismo e até as guerras em nome de Deus.
Hulk, por amor conseguiu achar seu ponto de equilíbrio, aprendeu a controlar sua "fúria", com sinceridade e sabedoria. A sinceridade é uma emoção fundamental para a estabilidade das relações sociais. Sem ela, surgem os conflitos. E sabedoria só acontece no amor, através do entrelaçamento do compreender e do conhecer.
Hulk só "domou" sua ira quando começou a ser sincero consigo mesmo, e com o amor da sua vida conhecendo e aceitando sua condição e respeitando e aceitando o outro, tornando-se um ser sábio. Espero um dia que os Hulks, que não têm nada de incríveis, aprendam a se controlar e aprendam o significado da palavra respeito. Podemos não concordar com o que o outro faz, ou pensa, mas a vida é do outro e não nossa.
Se cada um se preocupasse em construir sua própria vida, plantando seus jardins, em vez de pisotear o do outro, estaríamos vivendo um mundo mais humano e mais florido. O personagem verde, sem paciência e com tolerância zero, só existiria nas telas dos cinemas.