Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Suspiros de desânimo. Essa é a reação que mais observo quando encontro alguém na rua e pergunto sobre as eleições. Quando não é um suspiro, é alguma vociferação. Muito raramente ouço algo do tipo: “E tu viste aquela proposta para educação?”. Sobre polarização e ódio, já estamos por aqui de tanto ouvir e falar. Mas, o que tem me assustado é o alinhamento do debate político ao formato “nós contra eles” — independentemente de quem sejam “eles” e “nós”.
O confronto político tradicional envolve crítica ao adversário, claro. Valorizar sua proposta implica referência e comparação com aquelas dos adversários. E o cenário atual é temperado por três grandes crises que demandam propostas: uma econômica, que diminui o emprego e a renda do cidadão; uma da segurança pública, que nos trancafia cada dia mais cedo em casa; e a crise política, que se manifesta pelo descrédito aos políticos e o que eles representam para a democracia.
E, justamente nesta arena hostil, estamos acompanhando uma campanha política que do ponto de vista do debate de ideias beira a esterilidade. Campanha esta que deve oferecer como resultado a menor renovação dos quadros parlamentares da história. Ou seja, parece que não há nada melhor do que o caos para manter as coisas como estão. Que baita contradição existencial!
O cidadão está desacorçoado. As crises sugam sua energia vital e o debate político paira sobre ele apenas como uma espécie de catarse de frustrações, estimulando não a razão, a ponderação e o raciocínio, mas o clubismo raso e perigoso. E o mais triste de tudo é que esta campanha está tirando todo o proveito possível desta situação.
Na minha aula de Desenvolvimento Econômico desta semana, sugeri aos alunos que dissecássemos os programas de governo dos candidatos à Presidência, buscando por propostas relacionadas à dinâmica econômica, pobreza e desigualdade. Foi um sensacional exercício técnico e também de cidadania. Apesar de alguma decepção com a qualidade e o detalhamento dos planos em geral, foi interessantíssimo ver a turma interagir com ideias – boas ou ruins, claras ou nem tanto. Isso, sim, é razão pública!
Aqueles que conseguem avançar neste sentido têm, hoje, uma responsabilidade civil ainda maior. Não se trata de convencer as pessoas de que política faz parte da vida, mas estimular a conversa sobre o que mais importa: ideias. Momentos de crise carecem de ideias – boas, de preferência.