Por Jaqueline Tomaz, assistente Comercial e Marketing
Já disse Aurélio Buarque de Holanda que adaptação é qualquer característica de um ser vivo que o torne integrado ao ambiente e aumente as suas chances de sobrevivência. Hoje faz mais sentido para mim e posso concluir que a capacidade de adaptação é fator decisório para nosso sucesso ou insucesso.
Meus desconfortos nos últimos anos foram maiores do que minha resiliência, maiores do que minha capacidade de adaptação, então decidi me aventurar por terras estrangeiras. Outros olhares, outros cenários, outras possibilidades. Devo dizer que a satisfação está sendo infinitamente superior ao sacrifício.
Faço parte de uma massa brasileira resignada e sem esperança, que deixa sua pátria, sua família, seu bairro, sua rua, seus amigos, para encontrar apenas meios de subsistência e qualidade de vida, melhores oportunidades econômicas e sociais.
Passamos dos 86 mil brasileiros em Portugal, muitos vieram e voltaram, muitos fizeram daqui a sua pátria. Já somos quase 30% da população estrangeira.
Não se trata de deslealdade nem de antipatriotismo, trata-se de cumprir compromissos e de conseguir fazê-los, trata-se de pagar a escola, de encher o carrinho no supermercado, trata-se de ir ao shopping e poder comprar dois pares de sapatos no mesmo dia, trata-se de conseguir esquecer a janela aberta, trata-se de parar no semáforo e apreciar a paisagem.
Trata-se de pôr o pequeno-almoço (como chamam aqui o café da manhã) na mesa e escolher o que comer, a fruta, o pão, o leite, o sumo. Nunca pensei que a mesma palavra pudesse ter significados diferentes, e aqui elas têm, vandalismo é jogar um pedaço de papel no chão, infração é não parar na faixa de pedestre, uma cultura de educação e de respeito a tudo e a todos, receita simples, baseada no que é certo.
Viver aqui para inspirar essa educação em massa já é gratificante, é sentir-se gente, é sentir-se humano. Trabalha-se muito, o imigrante recebe da terra o que dá a ela, é preciso plantar para colher aqui, como em qualquer lugar, mas o plantio é próspero, a terra é fértil e a colheita é segura. Quem é o brasileiro que vem para Portugal?
É o pai de família que deixa de acordar com o salto do miúdo sobre a cama para dar lhe condição de sobrevivência, é o jovem cheio de sonhos e esperanças de conhecer e viver mundo, é a família que se desfaz dos bens e arrisca a sorte, e família classe A que deixa sua residência ampla para viver em um apartamento modesto longe da violência, não há classe econômica, não há raça e cor, há, sim, uma ânsia em massa de respirar paz e prosperidade.