Por João Ellera Gomes, médico
A estratégia de governo de manter a população indiferente às mazelas governamentais ficou bem resumida na frase: "temos de dar ao povo pão e circo". No Brasil, as políticas populistas irresponsáveis aliadas à uma corrupção desenfreada acabaram golpeando de morte a nossa economia, o que nos levou à uma condição de lento e gradual empobrecimento que afetou à quase toda população.
Escaparam uma pequena minoria de muito ricos e de membros do legislativo, pois esses últimos sempre souberam se proteger. Os demais, em especial a classe média, foram obrigados a cortar os gastos com refeições fora de casa, troca de carros, compra de imóveis e até planos de saúde. Isso sem falar dos milhões de desempregados que, repentinamente, perderam tudo. Ou seja, a manobra do pão ficou severamente comprometida. Restou a alternativa do circo, quando então elevaram os jogadores à categoria de heróis, guerreiros, representantes do povo brasileiro.
A mídia foi tomada pelas notícias com entrevistas de jogadores, cortes de cabelo, novos uniformes, aviões de luxo e assim por diante, como membros da orquestra do Titanic que continuaram tocando enquanto o barco afundava. Mas o destino quis que tanto o Titanic como a seleção afundassem e agora, sem pão e sem circo, vamos ter de voltar aos riscos de um cotidiano cruel e perigoso.
Os guerreiros na verdade somos todos nós, acuados por uma violência desenfreada que se não nos garante a certeza da volta para casa após um dia de trabalho, menos ainda fazer planos futuros. Somos constantemente saqueados por uma infinidade de tributos sem contrapartida, enquanto membros do executivo e legislativo enriquecem da noite para o dia. Teremos eleições em breve, mas estávamos entorpecidos pelo circo armado em torno da copa. É triste dizer isso, mas de certa forma, é necessário um choque para acordar uma nação. Antes sem pão e agora sem circo, é hora dos brasileiros começarem a questionar a falta de hospitais, de escolas, de infraestrutura, de segurança, de tudo que deveria ser o mínimo. Perdemos o jogo inconsequente, agora temos de acordar e jogar todos o jogo real da vida.