Seja quem for o eleito, o próximo governador gaúcho já tem pelo menos uma prioridade para administrar quando tomar posse em janeiro: um déficit nas contas públicas que, então, deverá estar próximo de R$ 4 bilhões. No primeiro semestre de 2018, mesmo com a ênfase ao ajuste fiscal, o rombo mais do que dobrou em relação a igual período de 2017, como demonstram os dados divulgados agora. Um pouco mais de compreensão quanto à gravidade da crise por parte de quem tem o poder de decidir sobre questões do Estado teria evitado um agravamento tão acelerado das finanças públicas. E permitiria ao próximo governador dar maior atenção às demandas da sociedade, o que mais uma vez não ocorrerá.
O desequilíbrio entre receita e despesa que precisará ser enfrentado em 2019 inclui a estimativa de atraso no 13º salário. Poderia ser pior, pois equivaleria ao dobro caso o Estado tivesse que pagar as parcelas da dívida com a União, que só não vêm sendo desembolsadas devido a uma liminar obtida na Justiça.
Entre as explicações para a piora na situação financeira do setor público gaúcho, estão o aumento nas despesas por conta de maior atenção à área de segurança pública, em contraste com o encolhimento das receitas. Além de ter concedido reajuste salarial a servidores da segurança pública, o governo atual contratou novos agentes. O que pesou mais, porém, foi o mau desempenho da economia nacional, potencializado pela greve dos caminhoneiros. De uma estimativa inicial de até 3%, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve limitar-se à metade, tendência que impacta em cheio o Rio Grande do Sul.
A campanha eleitoral para o governo do Estado não terá como deixar de lado um debate realista sobre alternativas para o enfrentamento da deterioração nas finanças públicas gaúchas. É importante que os pretendentes ao Piratini se manifestem claramente sobre como planejam enfrentar o desafio de governar sob essas condições.
A sociedade gaúcha quer seriedade fiscal, mas também um poder público capaz de cumprir com suas obrigações, particularmente em áreas que são da competência do Estado. Quem for eleito em outubro não pode se conformar com a condição de mero gestor de contas.