Nos últimos dias, tem sido discutido o projeto de lei que altera o processo de registro de agrotóxicos no Brasil. O principal argumento de quem defende o projeto é que a atual burocracia para aprovação de um novo agroquímico é muito grande, podendo demorar até 10 anos. Do outro lado, quem é contra defende que a atual lei que regulamenta o setor está bem estabelecida e não carece de mudanças – para mais agilidade, os órgãos envolvidos deveriam ser fortalecidos e capacitados, e não simplesmente enfraquecidos ou excluídos.
Ainda que no meio de argumentos sérios e relevantes, o debate tem favorecido a proliferação de opiniões sem qualquer fundamento, fake news e preconceitos de todos os tipos. Verdadeiras abobrinhas, como costumamos chamar aquelas opiniões descabidas.
Contra os agrotóxicos, pesam evidências científicas dos males tanto para quem os manipula quanto para quem consome os produtos por eles tratados. E, deste cenário, foi resgatado o conceito de agricultura orgânica, que se faz livre de químicos. A produtividade dela é, de fato, menor do que a agricultura de grande escala, trata-se de um fato agronômico. Mas esta diferença não é assim tão grande: um estudo publicado na revista Nature aponta que diferenças podem oscilar, de acordo com o produto, entre 10% e 30%. Nada parecido com “a agricultura orgânica produz menos que a metade”. Isso, provavelmente, não é verdade nem para a abobrinha.
Agora, claro que a tecnologia agrícola – inclusive química – é importante para produções em larga escala, especialmente quando se considera o crescimento populacional dos próximos anos. Com áreas de plantio cada vez mais restritas, a produtividade se torna central. Porém, a FAO tem apontado que as crises de alimentação, especialmente na África e no Oriente Médio, são resultado de conflitos, desastres naturais e preços dos alimentos. Não se trata – pelo menos não agora e no curto prazo – de absoluta falta de alimento no mundo. É uma questão distributiva. Ideia reforçada pelo nível de desperdício de alimento no mundo, que chega a 1/3 do que é produzido.
Este projeto merece debate sério, fundamentado. Está em jogo a segurança alimentar dos brasileiros, no sentido de disponibilidade e qualidade. Deixemos as abobrinhas para assuntos desimportantes – ou para um belo prato.