Um estudo da LCA Consultores, divulgado na semana passada, aponta que, em 2017, o número de pobres extremos no Brasil chegou a 14,8 milhões, 7,2% da população. Isso significa um crescimento de mais de 11% frente ao número de 2016. O país criou um milhão e meio de novos pobres extremos. Um número realmente muito triste, assustador. Mas pouquíssimo se falou sobre isso. E acredito que a falta de atenção ao tema se deve a nossa insensibilidade a ele.
Considere uma família composta de dois adultos e duas crianças. Para as pessoas desta família serem consideradas extremamente pobres, critérios internacionais sugerem que o total de renda mensal da casa deve ser menor do que R$ 544 – ou seja, R$ 136 por pessoa. É praticamente meio salário mínimo para sustentar quatro pessoas, sendo duas crianças. Não é possível, você diria! Bem, foi possível para quase 15 milhões de pessoas em 2017.
Vamos supor que essa família esteja instalada em algum lugar que não tenha custo, como uma área irregular, ou morando de favor, ou na rua. Uma das crianças tem apenas um ano de idade e precisa de leite. Se mais ninguém beber leite na família, seria algo como 15 litros por mês, somando
R$ 30. Uma cesta de alimentos básicos (feijão, arroz, massa, óleo, sal etc) custa em torno de R$ 80. Vamos adicionar alguma carne vermelha ou frango, que no mês totaliza outros R$ 80, e alguns legumes e verduras por mais R$ 40. Para os preparos, precisa de um botijão de gás, de R$ 70. Até aqui, gastou-se R$ 300.
Note que a família sequer tomou banho ainda, e já gastou mais da metade do seu orçamento. Vamos lançar, então, R$ 50 de itens de higiene e limpeza no mês. As crianças também precisam de algum medicamento, que gera um custo médio mensal de R$ 50. Agora, restam R$ 44. Tudo que você não leu nesta lista, até aqui, precisa caber neste valor: do transporte ao vestuário, passando pelo mais simples pirulito que seu filho pedir.
E se essa família ganhasse o triplo? Melhoraria bastante, mas ainda seria complicado, certo? Pois cerca de 1/4 da população brasileira está nesta situação. Essa narrativa é dramática e sensacionalista, sim. É que não consigo imaginar nada mais dramático do que ver este padrão voltando a crescer.