Gostamos de imaginar nossa vida como uma linha ascendente e contínua, em que a evolução para patamares cada vez mais aperfeiçoados se dá naturalmente, em consequência do mero passar do tempo.
Na verdade, não evoluímos sem sobressaltos e nem, principalmente, sem períodos de recolhimento, em que nos abrigamos em nosso casulo interior para poder renascer sob outra forma – essa sim, aperfeiçoada em relação à anterior.
Na verdade, não evoluímos sem sobressaltos e nem, principalmente, sem períodos de recolhimento
Diversas religiões, culturas e até mesmo contos de fadas referem-se a essas fases de latência, em que algo muito profundo está se processando no silêncio e na solidão. Em todas essas histórias, laicas ou sagradas, trata-se o final da metamorfose como um renascimento – o que estava morto, vítima do embate contra forças malignas e aparentemente superiores, se revela mais vivo, forte e influente do que nunca.
É de renascimento que trata a Páscoa. O domingo é uma festa que comemora a vitória da vida sobre a morte, da união dos homens sobre o individualismo, da fé na possibilidade da construção de um mundo melhor sobre a descrença, o desânimo e o imobilismo.
É com esse espírito que devemos aproveitar o feriadão de Páscoa, junto à família e aos amigos ou somente conosco mesmos, festejando com alegria as inúmeras possibilidades que a vida nos traz. Não é tempo de correrias, de buscar riscos, de viajar com desatenção e pressa, e sim de buscar apoio e de apoiar os demais em um mergulho rumo a uma introspecção verdadeira – da qual certamente sairemos, não somente renovados, mas transformados.