O anúncio do fechamento de seis escolas estaduais em Porto Alegre, feito pelo governo na semana passada, merece um olhar mais cauteloso antes de um julgamento definitivo. No ano passado, 2 mil turmas já haviam sido descontinuadas no Estado, dentro de um processo de adaptação da estrutura estatal à queda no número de matrículas. Basta olhar os números do IBGE nas últimas décadas para confirmar a tese de que o Rio Grande do Sul está ficando mais velho. Com menos filhos nas famílias, cai a necessidade de vagas nas salas de aula da maior parte dos municípios gaúchos.
É preciso, porém, que os critérios para o fechamento de escolas sejam absolutamente transparentes e públicos. Um governo verdadeiramente comprometido com a educação não pode, jamais, pensar em prédios ou terrenos de colégios como ativos a serem transformados em receita para cobrir buracos cavados por sucessivas incompetências na gestão do Estado. A venda de imóveis até é aceitável e muitas vezes vantajosa para o interesse público, mas deve ser consequência, jamais causa.
Um outro lado desse fenômeno da queda de matrículas vai além da demografia. O sucateamento da educação pública, com duas sucessivas greves e a falta de investimentos, empurrou parte das famílias gaúchas para o ensino privado, que sempre teve e terá o seu papel num sistema educacional plural e aberto. Hoje, as dificuldades são tantas nas escolas geridas pelo Estado, que os pais com o mínimo de poder aquisitivo preferem abrir mão de outros bens e serviços para matricular seus filhos em colégios pagos.
Ainda no foco da demografia, a queda no número de nascimentos embute um outro fenômeno praticamente ignorado pelos gestores públicos. O gradual e inevitável envelhecimento da população gaúcha, que tende a se acentuar nos próximos anos e é o mais avançado no Brasil, impõe uma série de providências que já deveriam estar sendo tomadas, inclusive na área da educação, criando oportunidade de crescimento intelectual para populações mais maduras, a exemplo do que acontece em países onde essa realidade já está consolidada.
Já faz muito, o debate sobre educação no Rio Grande do Sul se restringe praticamente a dois focos: salários do magistério e más condições dos prédios que abrigam escolas. Ambos os temas são realmente centrais, mas já deveriam ter sido superados, para que a sociedade dê um passo à frente e comece, finalmente, a debater não apenas se terá ou não educação, mas, sim, que tipo de cidadão nossas escolas deveriam estar ajudando a formar. Isso não é uma questão de número de escolas, mas do que está acontecendo dentro delas.