Como sempre me manifestei, inclusive neste espaço, por baixar a taxa de juros – pela regra elementar de que esta deve acompanhar a queda da inflação –, por coerência louvo o Copom por tê-la trazido ao nível mais baixo do passado recente (7%) e por acenar com o viés de baixa. A taxa é ainda alta para o padrão internacional, mas para o Brasil não é desprezível.
Mas, calma: o esperado impacto dos juros para reverter a recessão não deve vir logo nem no nível sonhado. A queda da taxa impacta na produção e no emprego se for capaz de aumentar o consumo e o investimento das empresas. Não é algo mecânico nem determinístico. No caso do consumo, afeta, principalmente, as vendas a prazo e, portanto, dos bens de consumo duráveis, geralmente mais caros, como automóveis, eletrônicos e imóveis. Mas estamos ainda numa situação de grande endividamento das famílias, sem contar o desemprego, a insegurança de comprometer o orçamento futuro e a defasagem entre a taxa básica do Copom e a efetiva paga na ponta pelos tomadores. Esses fatores limitam o poder de os juros afetarem não só o consumo, mas o próprio investimento privado. E este é também influenciado pelo contexto político-institucional: ainda está em aberto o que acontecerá nas eleições do próximo ano; os cenários indefinidos exigem cautela. O investimento ora verificado em alguns setores é o de reposição (bens depreciados pelo uso), mas não o que denominamos "autônomo", que introduz setores novos e amplia a capacidade produtiva, com efeito multiplicador no conjunto da economia.
Por que então saudar a decisão? O motivo mais importante é porque diminui o pagamento de juros pelo governo. A queda da taxa verificada nos últimos meses equivale a três vezes o que geraria de arrecadação nova CPMF. Com isso, diminui o déficit público – não o déficit primário, absurdamente usado no Brasil com principal indicador, inclusive por desconsiderar os juros –, mas o real dispêndio que o setor público faz mensalmente para bancar tal rubrica. Talvez isso tenha contribuído para o ministro Meirelles ceder à pressão para novo pacote de R$ 3 bilhões para "conquistar" votos de parlamentares. É lamentável que seja essa a prioridade, embora haja quem a considere defensável. Por isso podemos comemorar, mas com reservas.