Na última semana, a possibilidade de aprovação de uma reforma da Previdência esfriou. Mesmo sendo uma proposta completamente diferente daquela inicial, com determinações menos severas, a base do governo está começando a se desestabilizar quando se trata deste pleito impopular. A questão é que a aposentadoria é algo bastante sensível, de modo que existe maior probabilidade de cobrança popular sobre o voto de cada parlamentar.
Esta reforma é extremamente necessária. O atual sistema é insustentável do ponto de vista atuarial, ou seja, vai deixar de funcionar logo ali na frente se nada for feito. Existe pouco espaço para debate técnico sobre esta situação, sendo que um consenso de que algo precisa ser feito parece prevalecer. As discussões giram em torno das alternativas.
Neste contexto, quero falar sobre a expressão máxima da falta de habilidade de comunicação e do desinteresse do nosso parlamento em falar com a população. Tudo isso é condensado nas constantes afirmações dos parlamentares e do Executivo de que a população "tem que entender" a reforma da Previdência. Em um sistema representativo como o nosso, é inaceitável exigir que a população "tem que entender". Se a população não está entendendo é porque ninguém está explicando direito – e ela não tem qualquer obrigação de passar um cheque em branco.
A população não entende, hoje, por causa do contexto político e econômico vigente. Trata-se de um governo com algo próximo a zero de aprovação popular. De fato, fica muito difícil discutir reformas desta envergadura nesta situação. Mas, lamentavelmente, há líderes que acreditam que decisões precisam ser tomadas mesmo sem o consenso da sociedade, pois, supostamente, eles sabem o que é melhor para todos.
Do ponto de vista econômico, a dificuldade em entender a importância da reforma pode estar associada aos movimentos erráticos do governo em termos de ajuste fiscal: a liberação de emendas parlamentares para escapar de denúncia, a concessão de aumentos selecionados a servidores, a manutenção de subsídios bilionários para alguns setores.
A ideia de "tem que entender" implica confiança absoluta e transparência em ações coordenadas. Este não é, nem de longe, o cenário no Brasil atual. Achar que a população "tem que entender" é subestimar o processo democrático.