O conflito entre gangues na Rocinha, no Rio de Janeiro, e a chacina na cidade norte-americana de Las Vegas reacenderam o debate no Brasil e nos Estados Unidos sobre a conveniência ou não da restrição às armas como forma de deter a violência. Nos textos da seção Duas Visões, articulistas expõem argumentos antagônicos sobre a questão. Para o advogado e um dos fundadores do Armas Pela Vida , Diego Gomes Ferreira (leia abaixo), o controle é uma ilusão, pois é ignorado pelos criminosos. Para o sociólogo e professor Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo , ilusória seria a aposta na disseminação de armas como meio de defesa contra o crime .
Nos últimos dias, acompanhamos duas situações distintas, que nos levam a refletir sobre o desarmamento civil. Na favela da Rocinha, no Brasil, indivíduos com armamento pesado desafiam abertamente o poder do Estado, trocando tiros entre si e infernizando a vida dos moradores locais, tendo sido necessária a presença das Forças Armadas para amenizar _ não resolver _ a situação. Em Las Vegas, nos Estados Unidos, um indivíduo com armamento pesado abriu fogo sobre uma multidão, matando dezenas de pessoas que assistiam a um show. Antes mesmo do sepultamento das vítimas do massacre, já se ouviam manifestações em coro em favor do controle de armas no Brasil, como se a pátria do Estatuto do Desarmamento não fosse muito mais perigosa do que os Estados Unidos.
Embora a realidade brasileira e a americana sejam tão diversas entre si, ambos os casos levam qualquer mente sensata a uma conclusão segura: o controle de armas, rígido ou não, é ignorado pelos criminosos. Tanto no caso do Brasil (cuja rígida legislação desarmou o cidadão cumpridor da lei) quanto no caso dos Estados Unidos (cuja legislação é bastante permissiva), os criminosos utilizaram armas de fogo para cometer seus crimes. Poderíamos citar, ainda, a França, onde ataques terroristas viraram rotina. A despeito de leis drásticas e imensa capacidade de fiscalização estatal, por lá se matam inocentes com facas, armas de fogo e até com caminhões. Qualquer proibição só é levada em consideração por quem respeita a lei.
Enquanto políticos e celebridades que defendem o desarmamento circulam por aí com seguranças armados, somos massacrados por criminosos
Feitas essas observações, é importante que deixemos os americanos lidarem com os seus problemas e voltemos a atenção para os nossos, que não são poucos. Lá a discussão envolve restringir armas pesadas e é motivada por massacres cometidos por loucos; aqui a discussão envolve permitir armas leves e é motivada pela elevada criminalidade. Assim como o debate americano não abrange a guerra de facções na favela da Rocinha, não faz sentido que o debate brasileiro diga respeito ao assassino de Las Vegas.
Após 13 anos em vigor, o Estatuto do Desarmamento não trouxe a pacificação que foi prometida por legisladores e ditos especialistas, e nosso país amarga índices estratosféricos de violência. O número de homicídios subiu, revelando a ineficácia do desarmamento. Criminosos usam armamento ilegal para roubos diversos, desde simples assaltos, com um revólver, até ataques a carro-forte, com fuzis. Além de roubar inocentes, utilizam armas ilegais para lutar entre si, geralmente disputando pontos de venda de drogas.
Por mais que supostos especialistas possam tentar argumentar e defender o desarmamento, a lei só trouxe uma consequência objetiva, incontestável: nós, cidadãos ordeiros e cumpridores, ficamos sem nosso direito à defesa. Enquanto políticos e celebridades que defendem o desarmamento circulam por aí com seguranças armados, somos massacrados por criminosos perversos, contando apenas com a débil proteção que o Estado proporciona. Governo nenhum é capaz de assegurar integralmente a proteção da vida de seus cidadãos, razão pela qual o desarmamento é sempre indefensável. No Brasil, com bandidos desfilando com fuzis e granadas, o desarmamento é uma piada macabra. Criado por políticos que ignoraram a vontade do povo e celebrado pelos bandidos, o Estatuto do Desarmamento precisa ser revisto urgentemente.