Um dos fatos mais marcantes da economia brasileira nas últimas décadas é a perda de participação da indústria no PIB, fenômeno que vem sendo chamado de desindustrialização. A participação do setor, que já foi de mais de 32% ao final da década de 1970, hoje está por volta de 10%. É impressionante que mudança estrutural de tal vulto seja negligenciada tanto pelos sucessivos governos quanto nos debates, inclusive por associações empresariais. Há quem considere o fato normal, pois no mundo inteiro se verificaria tal tendência. O chavão é que a economia do futuro é a dos serviços, como se estes não dependessem de bens industriais intensivos em alta tecnologia e pudessem ocorrer sem inovação e maior produtividade no setor industrial.
Mas a tese de que o Brasil simplesmente acompanha a tendência mundial não tem lastro empírico, pois aqui ocorre em uma velocidade muito maior, sem contar que se dá numa fase em que o país não atingiu o nível tecnológico dos países líderes, o que vem sendo chamado de "desindustrialização precoce". Basta notar que, em 1980, em US$ constantes de 2005, o Brasil perfazia 2,6% da produção industrial do mundo; hoje, apenas 1,4%. Recente estudo do professor Marcelo Arend, da Universidade Federal de Santa Catarina, e de quem fui orientador de doutorado na UFRGS, mostra que, nas últimas décadas, perdemos não somente em relação à média mundial e aos asiáticos – que sempre são apontados como exceção – mas também em relação a vários grupos de países analisados, como América do Sul, Mercosul, G8, G20, Zona do Euro, Europa, Economias em Desenvolvimento e Desenvolvidas, África, Oceania, Principais Exportadores de Petróleo e Gás, e até aos Principais Exportadores de Produtos Primários. Triste constatação.
Mais dramático é pensar que se está depreciando o esforço que foi feito por mais de uma geração, principalmente entre 1930 e 1980, inclusive o trabalho incessante de homens como Euvaldo Lodi, Roberto Simonsen, Rômulo de Almeida e Oziris Silva em prol do sonho de um país com alto patamar de industrialização e liderança tecnológica. Colocar o problema embaixo do tapete contribui para que não se busque sua reversão. O que ocorre referenda o conhecido provérbio que a construção é árdua, mas a destruição é rápida e fácil.