Os desequilíbrios registrados na Caixa Econômica Federal (CEF), que busca uma forma imediata de se adequar a parâmetros internacionais para bancos saudáveis, são consequência direta da crônica má gestão da entidade nos últimos governos. Em boa parte, devem-se ao excesso de politização em seus postos de comando. Hoje, há pelo menos oito vice-presidências ocupadas por critérios partidários, o que ajuda a explicar o fato de a instituição financeira estar recorrendo a uma depauperada União, sua controladora, para seguir fazendo empréstimos sem o risco de redução nos limites de segurança bancária.
Esse momento em que a instituição busca alternativas para manter seu nível de operações é propício para melhorias sob o ponto de vista de governança
A preocupação da CEF é de adequar-se às novas regras de controle das estatais, que precisarão ser cumpridas até junho do próximo ano. A partir de então, será exigido um capital mínimo para a entidade seguir com o mesmo nível de operações _ condição válida também para o Banco do Brasil. A Caixa é líder no mercado de crédito imobiliário. No primeiro semestre deste ano, atingiu R$ 715 bilhões de saldo da carteira de crédito. O montante dá uma ideia do impacto para o país se essa instituição financeira, com forte atuação na área social, esbarrasse em limitações para atuar justamente quando a atividade econômica ensaia sinais de recuperação.
Quando erros desse tipo se acumulam no setor público, a conta pode até demorar, mas acaba ficando sempre com os contribuintes. Por isso, até mesmo pelo fato de o Tesouro Nacional não dispor dos recursos exigidos pela instituição, situações como a exposta agora precisam se prestar para mudanças ousadas.
Não por acaso, a Caixa Econômica Federal foi colocada no centro de episódios como as chamadas "pedaladas fiscais", que levaram ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. É também alvo de investigações da Lava-Jato. Entre outras razões, devido ao escândalo de um bilionário fundo de investimento em infraestrutura e pelas suspeitas de ter sido usada por vice-presidentes para favorecer partidos políticos responsáveis por sua indicação para os cargos.
Esse momento em que a instituição busca alternativas para manter seu nível de operações, o que pode resultar inclusive na abertura de capital, é propício para melhorias sob o ponto de vista de governança. Se a CEF quiser continuar cumprindo com suas atribuições sociais, o mínimo que tem a fazer é optar por uma gestão profissional, livrando-se de ingerências politiqueiras.