Carro, moto ou bicicleta? Qual o transporte individual mais apropriado para quem precisa se deslocar diariamente em cidades de maior porte, como Porto Alegre? A resposta, como demonstram os autores dos artigos na seção "Três Visões", depende de uma série de fatores, que vão desde razões pessoais e de mundo até necessidades específicas enfrentadas no cotidiano. Há justificativas relevantes, como a da segurança no caso do carro, da economia da moto e da liberdade no da bicicleta - leia baixo o artigo da ciclista Laura Romanowski Wainer .
O que levamos em consideração na escolha do modo como fazemos nossos deslocamentos cotidianos? Tempo? Dinheiro? Praticidade? Saúde? Autonomia?
Quanto tempo por dia se passa em um engarrafamento? Quanto dinheiro se gasta para manter um carro? Que repercussões isso tem no nosso corpo, na nossa saúde física e mental? Quão dependentes nos tornamos desse veículo para ir e vir?
Andar de carro é ir na contramão daquilo que dizemos estar buscando: tempo, dinheiro, praticidade, saúde, autonomia.
Fato é que só a bicicleta é capaz de promover qualidade de vida a nível individual e social, uma vez que seu uso não só produz bem-estar, mas também contribui para a preservação do ambiente e para a harmonia das cidades. A bicicleta é democrática, sustentável, eficiente, econômica para o usuário e para os cofres públicos; facilita a interação com outras pessoas e espaços; não faz barulho, não polui; exige de nós atenção e devolve felicidade. A bicicleta coloca em movimento pessoas e lugares.
Como mulher, digo que a bicicleta fez por mim mais do que qualquer tecnologia, me deu liberdade e confiança para ocupar ambientes hegemonicamente masculinos (o trânsito, o espaço público). Ir e vir deixou de ser temor e hoje é prazer.
Mesmo frente a tantos benefícios, ainda assim o cenário corrente da mobilidade urbana é caótico, dominado por carros. Em Porto Alegre, ainda somos menos de cem mil usuários de bicicleta em uma população de mais de 2 milhões de pessoas.
É de se perguntar: por que, então, ainda fazemos massivamente uma escolha que nos estressa, nos atrasa, nos faz gastar dinheiro, prejudica nossa própria saúde e a do mundo?
Só a bicicleta é capaz de promover qualidade de vida a nível individual e social, uma vez que seu uso não só produz bem-estar, mas também contribui para a preservação do ambiente e para a harmonia das cidades
Acredito que não haja uma resposta única, mas um conjunto de fatores complexos que explicam essa forma de pensar, ancorada na ilusão de eficiência do carro: nossa educação conteudista, a cultura de "ter" mais do que "ser", a lógica competitiva, efêmera e violenta das nossas relações, o comodismo de manter as coisas como estão.
Pedalar subverte, confronta a dinâmica individualista e imediatista que impera no contemporâneo, porque transforma a relação de cada um com a cidade e também consigo mesmo.
A bicicleta não é só o transporte que escolhemos, mas uma posição política que afirmamos: coerência entre nossas práticas e o que desejamos para o mundo. Andar de bicicleta é também declarar que acreditamos em uma forma mais humana de conviver em sociedade.