*Economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Nestes últimos dias, têm ganhado força as declarações do presidente Michel Temer de que a economia voltou a crescer. Tem gente dizendo, inclusive, que a recuperação econômica "veio para ficar". Logicamente que alguns números melhoraram, de fato – e não apenas deixaram de piorar, como vinha acontecendo. Mas ainda estamos longe de consolidar um processo de recuperação.
O resultado do PIB do segundo trimestre deste ano mostrou crescimento de 0,2%. Se considerarmos o resultado negativo no 1º trimestre, temos crescimento zero no total dos primeiros seis meses do ano. O que puxou o resultado positivo foi o consumo das famílias, ou seja, o gasto do cidadão. Aqui está a primeira comemoração ingênua, na minha opinião. As famílias gastaram (um pouquinho!) mais em função, principalmente, da forte queda na inflação, que faz com que os salários das pessoas tenham poder de compra maior. A taxa de juros menor também facilita a tomada de crédito consignado, por exemplo, que contribui para um efêmero aumento de consumo.
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A inflação baixa, aliás, tão celebrada como resultado de um esforço de política monetária feita pela equipe econômica, tem relação direta com a recessão econômica. As pessoas têm menos renda e o sistema produtivo está penando: não há como supor qualquer ritmo significativo de elevação de preços. A queda na taxa de juros representa o esforço de recuperação da atividade econômica justamente pelo fato de que a inflação está baixa.
Por fim, o emprego aumentou, sim. A taxa de desemprego em julho ficou em 12,8%, que significa 13,3 milhões de desempregados. O detalhe menos animador é que a queda do desemprego foi puxada pelo aumento da informalidade (trabalhadores sem carteira assinada).
Moral da história: é muito "porém" para uma conclusão tão eloquente quanto "a retomada veio para ficar". Todos os gargalos da economia – como burocracia excessiva, matriz tributária perversa, sangria das contas públicas, baixa produtividade e corrupção endêmica – ainda estão exatamente iguais. A situação no Brasil é tão ruim que estamos criando a ilusão de que política e economia estão se dissociando, como se uma não dependesse brutalmente da outra. Afirmar que a economia se recupera apesar do caos na política é quase uma contradição em termos.