* Editor, redator e empresário
Recentemente, um deputado do PMDB deu parecer favorável a uma denúncia da PGR contra o presidente Michel Temer, também do PMDB. A posição de Sergio Zveiter, relator da matéria na CCJ, foi digna de nota porque nos acostumamos a políticos tomando decisões conforme alinhamento. Comparemos com o último grupo que passou pelo Governo. Alguém é capaz de imaginar um relator do PT dando parecer favorável a uma denúncia contra um presidente do PT? Qual é, então, a diferença? Seriam peemedebistas bonzinhos e petistas malvados? Não é bem por aí.
A diferença aqui é essencial, comportamental. A mentalidade de esquerda, revolucionária (portanto, nefanda), é messiânica, salvífica. O militante entende todas as ações de seu grupo como indispensáveis, necessárias no caminho rumo a seus objetivos. Não há, portanto, ações boas ou más, mas eficazes ou ineficazes. Assim, justificam acintes como o Mensalão, que seria, então, um mero arranjo "necessário", em função do sistema político brasileiro. No fundo, em termos psicológicos, seria essa ideia de que seu partido não erra, apenas age conforme as necessidades, que faria com que um relator petista não se constrangesse em inocentar um presidente seu correligionário.
Ademais, em termos práticos, a despeito de tantos escândalos, o petismo conta ainda com uma fatia considerável do eleitorado - suficiente para reeleger o suposto relator em questão. Já o político de partidos fisiológicos (a maioria) não conta com essa despreocupação. A mentalidade fisiológica é submetida a interesses e necessidades mais elementares. No caso concreto que temos aqui, podemos supor, com base na observação de dezenas de outros casos, que o relator governista abriu fogo amigo não por estar pensando no bem da nação, mas por tencionar salvar a própria pele. Para um político sem um público cativo como o petista, a reação da opinião pública conta muito.
Nos partidos ideológicos, temos políticos condenados por definição, em função de seus objetivos; nos demais, o fisiologismo é a regra, mas há espaço para exceções (que existem, de fato). É preciso, pois, distinguir as causas primeiras da indigência política brasileira – e é a isso que serve essa comparação. Para doenças diferentes, remédios diferentes.