* Comissário da Polícia Civil
Somos constantemente informados, por TV, rádio e jornal, a respeito de dados alarmantes. Pesquise na internet. Está lá: "A cada 28 horas, um homossexual morre de forma violenta no Brasil"; "A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil, diz CPI"; "Estudo diz que Brasil tem, em média, 13 mulheres assassinadas por dia". Terrível, de fato. Como resolver tanta violência contra esses grupos de pessoas?
Uma boa ideia seria políticos, entidades, CPIs, ONGs e imprensa em geral pararem de tratar o problema de forma classista, segmentada. Talvez já tenha passado da hora de largarem as lentes do apartheid ideológico, através das quais não veem pessoas sendo mortas, mas classes, minorias, segmentos. Centenas de homossexuais e milhares de mulheres de negros são assassinados por ano? Ora, são mais de 60 mil os brasileiros (incluídos esses grupos), desprotegidos e impedidos pelo Estado de se defenderem, vitimados por criminosos fortemente armados. Todos nós – dessa grande classe chamada "brasileiros" – somos vítimas não de uma guerra, mas de um massacre, em que uma minoria violenta e covarde faz o que bem entende contra a quase-totalidade restante.
Ninguém nega a existência de violência contra mulheres, de racismo e de preconceitos. São problemas reais e que devem ser enfrentados, mas não como prioridades da segurança pública, merecedoras de vultosas somas de dinheiro em doações de organismos e investimentos do dinheiro público e de tanta atenção midiática. Num país em que morre mais gente do que em guerras, chega a ser sadismo tratar da insegurança como uma questão de minorias.
Como trabalhador, mulato, pai de família, afirmo que não me sinto mais inseguro por causa dessas características. O que vemos é a imensa, a esmagadora maioria de brasileiros, como um todo, morrendo em paradas de ônibus, em bares de bairros, no portão de casa – pelas mãos de bandidos que não olham para a cor de suas vítimas nem perguntam suas preferências sexuais. Comecemos, então, por parar de dividir a sociedade. Com união e foco seremos mais fortes e poderemos enfrentar nossos problemas reais.