A arrecadação da Receita Federal em maio acendeu sinal amarelo ao alcançar apenas R$ 97 bilhões: sugere que será impossível não se ultrapassar o limite do déficit de R$ 139 bilhões. O fato de o ministro Meirelles acenar para aumento de impostos fragiliza ainda mais o governo Temer e reforça sua contradição. Um dos maiores desgastes do governo anterior foi a proposta de Joaquim Levy de reintroduzir a CPMF (imposto sobre transações financeiras). Diz-se que a preferência atual é por aumento do Cide, imposto sobre combustíveis, abrangendo gasolina, querosene, gás e álcool. Um imposto indireto, por definição concentrador de renda, pois recai relativamente mais sobre os mais pobres. Não se cogita taxar ganhos financeiros nem dividendos, mantendo o Brasil como um dos poucos países sem tal imposto, ou repensar as alíquotas do imposto de renda, cujo teto de 27,5% se alcança com R$ 4.664,68. Menos ainda a volta da CPMF, pois esta ajuda a denunciar operações ilegais, o que assusta boa parte da "base aliada" e, pelo que tem vindo à tona, quase a metade do ministério. A esse ponto chegamos.
Surpreende mais ainda o fato de Meirelles insistir em aumentar impostos em plena depressão, a maior da história republicana. É de primarismo irritante, beabá de manuais, que aumentar impostos e cortar investimentos públicos em plena recessão só a alimenta, austericídio ao qual até o FMI se posiciona contra. A arrecadação cai com a própria recessão, configurando um ciclo vicioso: daqui a um ano, terá que haver novo aumento. E o investimento privado não reagirá enquanto as empresas tiverem capacidade ociosa e o desemprego perdurar: vender para quem, num quadro destes?
Meirelles é experiente e sabe disso, estranha manter tal política. Por isso, a dúvida é desvendar o que está por trás da persistência. Com certeza, não deve ser ignorância nem ingenuidade. Embora ele tenha sido por vários anos presidente do Conselho de Administração do J&F, grupo controlador do JBF, e nunca tenha percebido que a empresa desviava milhões para comprar políticos e receber vantagens. Pode ser pura distração, quem sabe?