A afirmação do presidente Michel Temer na Alemanha de que "crise econômica no Brasil não existe" poderia até se prestar para comemorações se tivesse um mínimo de relação com a realidade. O próprio presidente, para quem a crise política não influi no desempenho da economia, está no centro de um turbilhão que, ao longo da semana, provocou uma acelerada erosão no que lhe restava de apoio entre parlamentares e empresários. É lamentável que, ao invés de persistir nos ganhos da área econômica, ainda incipientes e sem garantia de continuidade, o governo contribua para abafá-los e mesmo para anulá-los ao insistir numa rota de desgaste cada vez mais sem perspectiva de volta.
Sob o ponto de vista econômico, portanto, faz mais sentido o reconhecimento pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, da influência da crise política na econômica. A diferença, como afirmou, também ao participar da reunião de cúpula do G20, em Hamburgo, é que a economia no Brasil dá "mostras de resiliência e de força neste período de certa incerteza". Apesar dessa capacidade de resistência, nem mesmo o registro da primeira deflação desde 2006, divulgado agora, serve de pretexto para otimismo. Além de não ter sido percebido no bolso do consumidor, o anunciado recuo generalizado nos preços se deve em parte à própria recessão, e não apenas a fatores positivos como a supersafra.
Para se mostrar um país estável, como o vislumbrado pelo presidente da República, o Brasil precisará primeiro definir seu futuro político imediato, hoje incerto. É importante que isso seja feito com o cuidado de preservar recentes avanços na economia. Entre os ganhos confirmados mais recentemente, estão a própria inflação sob controle, uma discreta reação na produção industrial em maio e um superávit recorde na balança comercial durante o primeiro semestre.
Ao mesmo tempo, o país não pode ignorar problemas que a crise política, sim, vem colocando perigosamente em segundo plano. Entre eles, estão 13,8 milhões de brasileiros sem emprego numa economia ainda estagnada e agora sob a ameaça de uma crise fiscal iminente. Os desafios só poderão ser enfrentados se o país reunir as condições necessárias para aprovar reformas que dependem em muito de um governo com níveis adequados de popularidade. Cabe aos brasileiros perseguir esse Brasil sem crise, que pouco se parece como o atual.