* Advogado e especialista em Gestão Pública
Ter crédito ou dar crédito a alguém ou a alguma coisa. Credibilidade é uma expressão que pode transitar da religiosidade ao mercadinho, pois quem nunca teve fé ou uma conta no boteco da esquina? Atualmente, a credibilidade ganhou contornos de refinamento a ponto de nortear o rumo de nações e, até mesmo, alterar rígidos contratos. Em razão do projeto reformista do atual governo federal, a Constituição Federal, o mais importante contrato vigente na República, será alterada a fim de obter credibilidade de um ser sobrenatural chamado mercado financeiro. Usando um singelo raciocínio lógico podemos concluir que quem precisa modificar seu comportamento ou seus contratos para obter credibilidade não tem credibilidade, portanto, neste momento, o Brasil não tem credibilidade. É isso?
Mas afinal de contas, quando foi que perdemos a credibilidade? Talvez as empresas de classificação de risco (rating) tenham retirado nossos créditos. Mas qual é a credibilidade dessas empresas? Não podemos esquecer que o banco Lehman Brothers, símbolo do desencadeamento da crise econômica de 2008, detinha o triplo "A" quando na realidade estava absolutamente quebrado.
Mas então, em quem confiar? É preferível acreditar em pessoas ou em projetos? A resposta é simples. Projetos não são inanimados ou frutos do acaso, pertencem a alguém ou a algum grupo que pretende atingir determinado fim, portanto, a credibilidade dos projetos depende da credibilidade de seus mentores. Vamos ao caso concreto. O governo brasileiro sempre sustentou que as reformas trabalhista e previdenciária têm como finalidade nuclear a recuperação econômica do país. É possível crer nisso? Retomando a ideia de que acreditar nas pessoas e em seus projetos é um exercício intermitente sem margens para desconexões, entendo que divulgação da gravação da conversa entre o presidente Michel Temer e Joesley Batista foi saneadora, pois se havia alguma dúvida sobre as intenções que motivam as reformas apresentadas ao país, elas foram dirimidas pela absoluta perda de credibilidade do seu representante e defensor maior, o presidente da República.