* Médica, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS
Num cenário de recursos parcos para a saúde, acredito em concentrar e focar no que é possível fazer com competência, criatividade, paciência, dedicação e solidariedade. Sim, existem projetos possíveis no Brasil que nos permitem oferecer à população, em especial àqueles portadores de doenças graves, potencialmente terminais como insuficiência cardíaca, por exemplo, alternativas em espectros amplos e distintos; tanto em complexidade quanto em simplicidade.
De um lado, na ponta da complexidade, existe a possibilidade de transplante de coração realizado em hospitais públicos de referência. O Brasil tem um robusto programa nacional de transplantes custeado pelo SUS, que oferece esperança de mais tempo de sobrevida e qualidade de vida a milhares de pessoas por ano. Ainda há muito que progredir nessa área, mas o país avança nesse campo, inegavelmente.
Por outro lado, no espectro mais simples, mas não menos importante do cuidado desses pacientes, estão os cuidados paliativos – sim, paliação faz parte do tratamento de muitos pacientes, que não apenas portadores de câncer. Poder oferecer conforto junto à família, proporcionando medicações e noções de autocuidado para que os pacientes possam, por exemplo, permanecer em casa e provavelmente morrer junto aos seus é hoje uma realidade oferecida pelo SUS. Iniciativas como o programa Melhor em Casa, do Ministério da Saúde (disponível em Porto Alegre e coordenado pela Secretaria Municipal da Saúde), dão amparo a esse tipo de abordagem, refletindo uma preocupação com a humanização do cuidado – de fato, a modernidade de uma estrutura assistencial não deve apenas se preocupar em oferecer tratamentos sofisticados como transplante de coração, e sim entender o que é melhor para o paciente e poder oferecer coisas simples no conforto do lar na companhia dos seus.
Como médica, quero poder transitar nesse espectro de oportunidades e, como professora universitária, quero poder ensinar aos meus alunos e residentes quão complexo ou simples pode ser cuidar dos nossos pacientes – mesmo com parcos recursos – desde que empenhando nossas melhores energias.