* Professor e técnico em Segurança Pública
Junho de 2017: "Comissão Europeia multa a Google, por 'abuso de poder', em R$ 9 bilhões."
Depois de seis, sete décadas de ardorosas opiniões sobre a programação da televisão aberta brasileira, arena eletrônica onde tantos se digladiaram em torno da programação, da qualidade do conteúdo e do ibope, não mais importa. Há uma nova e planetária geração de telespectadores, que, pelos dutos globais – sombrios e subterrâneos – da multifragmentada internet, só precisa de vídeos, de fotos e de comentários capazes de vazar os olhos, os estômagos e qualquer parâmetro.
A humanidade tenta "encher um copo de água num hidrante global aberto": a internet, sabemos, é gigantesca e sedutora. Entretanto, a revolucionária ferramenta, apesar das profundas transformações humanas, sociais e econômicas que promove, ainda se engasga com o próprio ego; e nós, como naqueles péssimos filmes de zumbis, seguimos atrás perdendo os pedaços, mas sem jamais largar o copo.
Esses impérios digitais ainda não "salvaram" (em nuvem alguma) um princípio básico: sociedades não respiram por aparelhos, menos ainda pelos seus. Mais: as sucessivas alegações de "incapacidade tecnológica" (conhecida resposta à Justiça brasileira), para negar a quebra dos sigilos de criminosos investigados, que se escondem nas redes sociais (como se fossem cabanas abandonadas no velho oeste), afrontam o conjunto da sociedade, das leis, das normas e, principalmente da segurança.
A jovem tecnologia bebe no velho cálice da presunção até cair; outras revolucionárias invenções já entornaram dessa mesma taça. Mas há uma diferença crucial: nenhuma delas, de modo tão vertiginoso, elevou sua egolatria a cumes tão altos e rarefeitos – mal se pode "respirar" (digitar) com segurança... Se conseguirem se livrar do determinismo tecnológico cego, do egocentrismo fervoroso e do torpor da presunção, talvez não tenham mais de pagar bilhões em multa, do que duvido muito (as indústrias petrolífera e automobilística, depois de todo esse tempo, ainda pagam). No entanto, seja como for, reinos cibernéticos, em qualquer tempo, sempre serão apenas isto: empresas. Salvou?