* Economista, professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria
Para desenvolver um sistema econômico, os governos de nações ambiciosas organizam as economias de mercado de modo a qualificar o capital humano para aprender como obter mais renda da combinação de recursos naturais, capital e trabalho. Tal estratégia consubstancia-se em políticas educacionais, científicas, tecnológicas, inovativas, de fomento à indústria e aos serviços sofisticados. Como resultado, dissemina-se inteligência produtiva em inúmeras pessoas capazes de produzirem caminhos para o aumento de renda, ou seja, de lucros e de salários, mediante a criação de produtos e serviços cuja escassez decorre de seu conteúdo intelectual, bem como por meio da elevação da produtividade. É o que se apreende das trajetórias de Grã-Bretanha, E.U.A., Japão, Alemanha, Coréia do Sul, e recentemente China, entre outras.
Inexistem especificações detalhadas para um processo de desenvolvimento. Sabe-se que é sempre difícil, demorado, requer volição e clareza de objetivos compartilhados entre os nacionais para o alcance de um alvo móvel. À medida que a técnica evolui, o nível de produtividade anterior é superado e produtos outrora raros tornam-se corriqueiros. Um ponto importante no desenvolvimento é a cumulatividade do conhecimento; a nação que empreende a qualificação do capital humano é cada vez mais apta a obter novos aumentos de renda.
O governo de Henrique Meirelles - Temer ou Maia é questão menor -, ou não tem ambição de desenvolvimento ou chegou à conclusão de que é incompetente para gerenciá-lo. Condenou ao ostracismo os Ministérios da Ciência e Tecnologia e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, impôs o Teto dos Gastos e arrochou economias estaduais endividadas. Após essas medidas, que muito contribuem para tornar o Estado incapaz de moldar o sistema de mercado, institucionalizou a renovação dos lucros pela redistribuição da renda do trabalho para o capital, mote da açodada reforma trabalhista. Não pretende elevar a renda nacional pelo incentivo ao aprimoramento intelectual de sua população. Constrói um sistema nacional, grosso modo, similar ao de 1920. No país que se anuncia para a próxima década, o café é substituído nas exportações pela soja, analogamente comum. Os institutos de meação e de posse que acomodavam a absorção de população pobre em uma agricultura de subsistência, dão lugar a suas contrapartes atuais, a terceirização e o trabalho informal em um setor de serviços de subsistência. O mercado interno voltou a encolher.
Existem dessemelhanças também. O Brasil de 2020 não é rural, é urbano. Há escombros da industrialização. A população alijada de renda decente é bem maior. E, principalmente, as expectativas de consumo e a capacidade de comunicação da massa subempregada são infinitamente superiores. A sociedade colonial vigorou por mais de três séculos trocando as commodities exportadas quando das crises, contando com o isolamento e a cumplicidade submissa dos empobrecidos. A sociedade consumista de um Brasil "conectado" e inculto alcançará três décadas?