* Doutor em Planejamento Ambiental pela Coppe/UFRJ, professor de mestrado da FGV/Eaesp e diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem
Quando o Acordo de Paris foi aprovado, no final de 2015, houve muitas críticas de que o acordo seria insuficiente ou fraco, pois não prevê punições para quem não cumprir suas metas. Mas a aceitação cresceu e a ratificação ocorreu em tempo recorde, após um ano, em contraste com os sete anos do Protocolo de Kyoto. No entanto, a posição do governo Trump trouxe novas dúvidas. Felizmente, por mais importantes que sejam os Estados Unidos, entendo que o acordo não corre sérios riscos por dois motivos: 1) a ideia de que não pode haver retrocesso nas negociações está muito presente entre os governos; e 2) o movimento faz sentido socioeconômico.
A repercussão foi forte e recebeu imediatas críticas. Dentro do G7, nenhum país apoiou o movimento norte-americano. Na reunião do G20, ainda mais pressão foi colocada sobre os EUA. Internamente, parece não haver consenso no próprio governo. O secretário de Estado Rex Tillerson, ex-presidente da Exxon Mobil, é contra essa posição. Pelo menos 10 Estados americanos – dois com governos republicanos – formaram a Aliança do Clima. Cidades como Pittsburgh e Nova York estão a favor do acordo, assim como líderes de empresas como Exxon Mobil e Shell, do setor petrolífero, e de outras como Apple, DuPont e Dow.
Segundo o Banco Mundial, foram investidos cerca de US$ 350 bilhões em energia renovável em 2015 no globo, mais do que o dobro do destinado às fontes fósseis. Estima-se que países em desenvolvimento gerem US$ 23 trilhões em negócios de baixo carbono até 2030. Os empregos no setor devem saltar de 10 milhões para 23 milhões, diz a agência de energia renovável, Irena. Parece, portanto, contraditória a ideia de deixar o acordo e "preservar os empregos".
No Brasil, o governo expressou decepção com o anúncio dos EUA e, no dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, aderiu oficialmente ao Acordo de Paris. No meio empresarial, a IEC (Iniciativa Empresarial pelo Clima), formada por Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, Pacto Global, Instituto Ethos, GVCes, CDP e Envolverde, lançou o manifesto Nós Permaneceremos, em apoio ao acordo.
A nova economia abre oportunidades para quem tem soluções. Inclusive ao Brasil, que sai com vantagem graças à posição renovável da sua geração de energia (75%) e alta produtividade em biomassa. Se investimos em inovação, diferenciais comparativos poderiam virar vantagens competitivas. Um exemplo concreto: o país já é o maior produtor mundial de biopolímeros, mas pode avançar ainda mais.