* Ex-secretário estadual de Infraestrutura
Colocar os interesses do Estado à frente das disputas políticas parece óbvio. Porém, está comprovado que o Rio Grande do Sul tem se mostrado incapaz de construir uma pauta conjunta e unificada para obtenção de novos investimentos. O novo exemplo desta incapacidade foi publicado pela Zero Hora (23/07). A reportagem sobre o transporte de cargas sobre trilhos, do jornalista Caio Cigana, mostra que há uma redução gradativa na movimentação de mercadorias por trens no território gaúcho. O assunto já era motivo de preocupação da base produtiva local e agora ganha maior relevância com o debate público.
Os investimentos em ferrovias em todo o Brasil cresceram nos últimos três anos. O Rio Grande do Sul é um dos poucos Estados que registraram queda. Estamos perdendo a oportunidade de disputar investimentos de cerca de R$ 2 bilhões de reais na nossa malha ferroviária. A melhoria do pátio de trens em Cruz Alta, o acesso ao porto de Rio Grande, a melhoria do material rodante, o polo do município de Estrela, o ramal de ligação de Caxias do Sul são obras que diminuiriam o custo logístico e aliviariam a pressão nas rodovias, sem contar a diminuição nos índices de acidentalidade. A cidade de Nova Santa Rita, por exemplo, ocupa uma posição territorial estratégica nesse processo de integração modal. A efetivação destes projetos faria com que essas localidades tivessem um ativo importante, mas atualmente a questão logística não passa de um problema.
Neste momento, está aberto o processo de renovação da concessão da ALL/Rumo e o debate sobre a alocação dos recursos. O oeste do Paraná está mais perto de obter sucesso nas suas demandas. O RS não pode perder esse momento histórico, precisa se organizar, mobilizar, unificar suas forças para garantir a retomada do crescimento do transporte de cargas sobre trilhos. É inaceitável, até agora, que tenhamos olhado passivamente uma concessionária que explora um serviço público de vital importância para o desenvolvimento econômico do Estado dizer que tem dúvida de fazer investimentos no RS e ficar por isso mesmo.
Não podemos aceitar a vocação para o atraso. O RS precisa romper isso. E um dos caminhos de ruptura é o investimento em infraestrutura e logística. Chega de perdemos investimentos para o Norte do país, para o Paraná, ou Mato Grosso do Sul. Enquanto nos dividimos disputando a paternidade de projetos secundários, o que sobra é a paternidade pelos grilhões do atraso.