* Cientista político
A crise nas democracias pelo mundo é também uma crise de legitimidade. Instituições que antes detinham o bastão capaz de canalizar e institucionalizar aspirações e demandas da sociedade para o centro decisório, como os partidos políticos, os parlamentos e até mesmo os movimentos sociais tradicionais, perderam o fôlego diante de uma nova realidade cada vez mais congestionada pelo acesso rápido a resultados.
A situação brasileira é ainda mais caótica, pois revela acentuadas discrepâncias em relação ao sentimento do cidadão para com sua democracia. Isso é o que dizem os resultados do último Latinobarômetro, segundo o qual mais de 70% da população está de acordo que a democracia tem de ser o regime político vigente, enquanto que mais de 70% estão insatisfeitos ou profundamente insatisfeitos com os resultados que esse regime produz. Apenas 6% e 10%, respectivamente, confiam em partidos políticos e no Congresso Nacional. Somente a Justiça melhorou frente aos olhos do cidadão brasileiro.
O que isso significa? Bom, pra começar é preciso dizer que o Brasil não está sozinho nessa onda, o clube das democracias tem também países como os Estados Unidos, França e Inglaterra, estes últimos, inclusive, com um preocupante processo inicial de dissidência geracional em relação à adesão à democracia como valor. Isso nos diz que as novas gerações não defendem a democracia como as anteriores. Significa que há um processo mais amplo de esgotamento das respostas que as instituições tradicionais de representação vêm dando para as preocupações de suas sociedades.
Por que devemos nos preocupar com o caso brasileiro? A resposta é que aqui há uma indigesta confluência de elementos que podem nos levar mais rapidamente à bancarrota. O castelo de cartas sob o qual se desenrola a teatrocracia brasileira mistura elementos como fraca institucionalização e personalismo, conservadorismo autoritário com anomia social, deslegitimação e depreciação do campo político frente à economia e à Justiça. Nesse cenário, o salvacionismo de um líder forte em detrimento da solidez institucional é uma objeção para 2018.