Nas últimas semanas, diferentes canais foram inundados por informações sobre o Baleia Azul. O jogo, que aparentemente teve origem na Rússia, convocaria jovens a seguir tarefas automutiladoras que culminariam com tentativas de suicídio.
As notícias sobre esse risco virtual encontraram nos lares contemporâneos solo fértil para a preocupação dos pais. O tom de urgência, para além de alertar sobre os riscos de suicídio na adolescência, aponta para um cenário no qual adultos encontram dificuldades em lidar com a educação de seus filhos.
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Ao escutar pais, muitas vezes ouvimos "eu não sei o que fazer", "ele não me escuta", "não sei como protegê-lo", entre tantas outras falas que remetem para um sofrimento dos adultos. É corriqueiro encontrarmos sujeitos aflitos por não conseguir estabelecer relações saudáveis com os filhos. Há a intenção de ter a melhor relação possível. Mas dúvidas surgem: qual é a melhor relação possível? Como agir? Estou acertando no modo de cuidar?
Vivemos tempos de mudanças nos modos de viver e educar. As tradições perpetuadas na regra "meus pais fizeram assim" parecem não responder às necessidades das famílias. O autoritarismo perde espaço para o diálogo. As novas gerações de pais buscam outros modos de relação com os filhos. Contudo, essa construção não impede que as questões próprias da juventude provoquem dúvidas e conflitos.
Para crescer, o adolescente coloca em xeque a confiança e o amor dos pais. Em geral, o modo de reagir a esse amor que muda não é tranquilo. Confrontos, mentiras, isolamento, flertes com a morte e desestabilização psíquica, em diferentes níveis, associam-se a pedidos de acolhimento. Nessa gama de emoções e ações, os pais são exigidos ao máximo na sua capacidade de amar e educar.
Não é só o filho ou a filha que adolescem. Todo o núcleo familiar entra em adolescência e precisa encontrar outro jeito de ser e estar junto. Entre as expectativas e a realidade, pais e filhos necessitam construir novos arranjos familiares. Tarefa que não se mostra simples e rápida. Exige tempo, tolerância, reflexão e aprendizagem de todos os envolvidos.
É imprescindível, para compreender o processo dos pais, destacar o quão desafiador é ser responsável por auxiliar um adolescente a aprender a sustentar a sua existência, ou seja, a encontrar maneiras de viver de acordo com o seu desejo e a coletividade.
Na adolescência dos filhos, os pais se veem confrontados com suas próprias dificuldades. Esse delicado período remete o adulto à sua impotência enquanto adolescente que foi e enquanto pai que precisa ser. Seus enlaces amorosos, seus percalços, suas dúvidas, que podem até estar soterrados na memória, atuam ao acompanhar os filhos.
A assimetria das responsabilidades de pais e filhos é evidente. Espera-se que os pais tenham melhores recursos emocionais. Mas nem sempre é assim. Por vezes, as frustrações impedem que o adulto acolha as necessidades do filho. Então, como encontrar caminhos? Não há manual. Culpar os pais pelas dificuldades dos filhos é solo infértil. Em nada auxilia a elaborar de estratégias de melhor viver. Pais têm medos e tentam dar conta de suas realidades. Às vezes, precisam suporte e espaço para si mesmos.
A boa notícia é que os pais que embarcam na aventura de aprender com os filhos têm mais chances de viver a experiência de vê-los encontrar o seu jeito de ser e estar no mundo.