* Professor, membro titular da Academia Brasileira de Filosofia
Segundo Agamben, filósofo italiano da atualidade, o aniquilamento definitivo do homem e o fim da História implicam o desaparecimento da linguagem. Em nosso novo tempo, ela já está sendo substituída por sinais semelhantes à linguagem das abelhas. Como consequência, também já se decretou o fim da filosofia enquanto amor pela sabedoria. Para que se preocupar com a verdade se o homem está fazendo o retorno ao mundo das abelhas?
O homem, antes do fim da História, vivia em um mundo coberto de significados inexistentes para a abelha. Sim, havia uma floresta para as abelhas, mas também existia "uma floresta para o guarda florestal; uma floresta para os caçadores; uma floresta para os botânicos; uma floresta para os viajantes; uma floresta para o amigo da natureza; uma floresta para o lenhador e, por fim, uma floresta na qual se perde Chapeuzinho Vermelho".
A palavra era a morada do ser. Fazia sentido a trilogia de Heidegger: "A pedra era sem mundo; o animal era pobre de mundo; e só o homem era formador de mundo". No animal, não havia um perceber, apenas instinto. A característica essencial do animal era a pobreza de mundo, pois nenhum animal ou planta possuem a palavra.
Fácil de compreender. Nesse contexto, a polis e a política eram possíveis somente entre os homens. Porém, o Estado esqueceu de sua finalidade primeira: a justiça. A justiça, antes concebida como o ato de tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente, na medida de sua desigualdade, visando equilibrar as partes, agora é o ato de tratar os ideologicamente iguais igualmente e os ideologicamente desiguais desigualmente, visando desequilibrar as partes. O jogo é passa-passa-passará, quem detrás ficará...
Reflexão e valores já não têm qualquer sentido. O único sentido é que ele não tem sentido nenhum. Já podemos prescindir da palavra. Tudo está no Face. Agora, eu tenho 5 mil amigos, mesmo que nenhum deles saiba nada de mim. A condição pós-histórica do homem implica esse retorno. Isso já não é uma possibilidade do futuro. É o presente.
Chegamos ao fim da História. A incapacidade de indignação foi substituída pela rebelião sem desvelamento. Não há mais a procura pela prima-vera (verdade primeira). Nem pela primavera de que nos falava Drummond. O negócio é a prima Vera ou a prima da Vera, pois ela sabe como desviar uma grana no esquema da corrupção.