Divididas, mais por divergências políticas do que de ordem sindical, até mesmo as centrais de trabalhadores admitem uma mobilização menor na greve geral convocada para hoje, em comparação com a realizada no dia 28 de abril. Ainda assim, quando paralisações atingem até mesmo atividades essenciais, como as que voltam a ser anunciadas agora, acabam tendo reflexos muito mais sobre os próprios trabalhadores do que em relação às mudanças que pretendem combater. Entre as prioridades de líderes sindicais, está a oposição às reformas trabalhista e previdenciária, que, com ou sem mobilização nas ruas, vão avançando no Congresso, mesmo num momento de grave crise política.
Com menos potencial para sensibilizar manifestantes, a reforma trabalhista passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, depois de ter sido derrotada na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), e está pronta para ir ao plenário. Já a previdenciária, que enfrenta mais restrições entre os brasileiros de maneira geral, pelo temor de prejuízos aos futuros aposentados, está parada na Câmara. Mesmo nesse caso, a dificuldade de prosperar ocorre menos pela pressão das ruas e mais pelo agravamento da crise política, que leva o presidente Michel Temer a concentrar os esforços na Câmara e no Senado em defesa própria e na de sua equipe.
Projetos como os que estão em análise pelo Congresso não podem ser usados como trunfo político do governo, nem como bandeira de quem simplesmente se opõe às mudanças. É natural que inovações em áreas sensíveis como as legislações trabalhista e previdenciária suscitem opiniões divergentes. Ainda assim, as mudanças propostas não são de interesse desse ou de qualquer outro governo, mas do futuro imediato do país. E não deveriam ser rechaçadas por quem alega representar os interesses dos trabalhadores com argumentos muitas vezes falaciosos, por desconhecimento das propostas ou simplesmente por má intenção.
Muitos dos que, agora, prometem sair às ruas, limitando o direito ao livre deslocamento de quem pretende ir trabalhar ou exercer normalmente suas rotinas, acabaram contribuindo nos últimos governos, com esse tipo de comportamento, para a crise econômica alcançar os níveis de hoje. E uma crise dessas dimensões não se resolve sem as reformas que se limitam a combater. Os trabalhadores poderiam contribuir mais para o país se decidissem unir forças com quem está disposto a criar as condições para a retomada do crescimento econômico.