É preciso cuidado para não frustrar a sociedade nesse momento decisivo para uma mudança de patamar ético no país. Independentemente do peso que o confronto aberto entre procuradores da República no comando da Lava-Jato em Curitiba e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) teve na revogação da prisão preventiva do ex-ministro José Dirceu, o fato concreto é que decisões judiciais precisam ser cumpridas. É cedo para concluir que a liberdade do ex-ministro, vigiada por uma tornozeleira, ameaça a mais emblemática operação contra a corrupção em andamento no país. Ainda assim, a ampla maioria da sociedade em defesa do combate à corrupção tem razões para se preocupar no momento em que se instala uma divergência entre juízes de primeira instância e o STF diante de uma questão crucial para o país.
Por mais que se prestem para visões distintas entre juristas, as prisões preventivas de envolvidos nas denúncias relacionadas à Petrobras vêm sendo encaradas pela população como um sinal de eficiência do Judiciário frente aos envolvidos em corrupção. Essa, porém, é uma questão que precisa ser enfrentada à luz da lei, não por meio de confrontos entre poderes. E o que se constatou agora, com a decisão de denunciar o ex-ministro pela terceira vez no dia do julgamento de seu habeas corpus, foi uma espécie de reedição do caso do powerpoint relacionando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a denúncias.
Diante do embate entre instâncias judiciais, amplia-se a pressão sobre o Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Cabe ao órgão demonstrar agilidade nas decisões, confirmando ou não as sentenças de primeira instância.
A sociedade tem demonstrado, por ampla maioria, que defende a continuidade da Lava-Jato, não o seu desmonte.