* Médico
A sociedade brasileira oferece uma ampla gama de situações que tornam tenso o ato de viver. Ao contrário das demais sociedades desenvolvidas, em que a tranquilidade do viver é alterada pelos fenômenos vitais previstos, aqui os eventos vitais estressantes são potencializados pela precariedade das estruturas assistenciais, quando existentes, pela insegurança existencial estressante que atinge o cidadão no seu dia a dia, pelas dificuldades geradas pela falta de recursos. Nas sociedades mais avançadas, há, de fato, uma perda da subjetividade no ato de viver, dando lugar a uma objetividade científica que isola o indivíduo dos demais, tornando-o um "ser digital", que vem sendo objeto de preocupação para os estudiosos da fenomenologia social.
Do ponto de vista psicológico, este isolamento é, aparentemente, o maior risco de bloqueios na interação que o indivíduo sadio deve ter com seus semelhantes.
Nada se compara, porém, ao caos social em que o cidadão brasileiro é obrigado a viver: o noticiário dos meios de comunicação relata, desde o amanhecer e de forma contínua, os altos índices de homicídios, latrocínios, acidentalidades, corrupção, mortalidade por desassistência, além da pobreza generalizada em um país de recursos naturais inesgotáveis.
Os conflitos psíquicos são demasiados, excedendo, em muito, a capacidade emocional do indivíduo em manejá-los adequadamente. Recorre, então, a mente humana a mecanismos neuróticos de defesa, principalmente a obsessão (na qual há a transferência do fator traumático ameaçador incontrolável para uma ideia, pensamento ou tarefa que dá mais segurança, por dominá-la), a fobia (em que há a transferência do elemento interno intolerável e inconsciente para um externo ameaçador, mas consciente) e a histeria (na qual há a somatização ou tradução corporal do sofrimento inconsciente).
Alheios a esses dissabores, os políticos ignoram as necessidades básicas da população, administrando o país preocupados com a sobrevivência de sua casta. O resultado é medido pela lentidão das obras públicas: estradas em obras em tempo por demais longo, multiplicando os acidentes nas estradas, postos de atendimento médico anunciados e nunca terminados, precarização das instalações hospitalares etc.