Escrevi outras vezes sobre aspectos estruturais que impedem o Brasil de entrar em uma rota de desenvolvimento mais sólida. Um deles, muito mencionado, é nosso déficit educacional. Tenho notado um vício nas tentativas de diálogo sobre esse assunto, sempre que tento trazê-lo à tona: as pessoas confundem capital humano com escolaridade.
Não sei se é pelo nosso excessivo academicismo, cartorialismo e corporativismo. Mas o fato é que, por alguma razão, o brasileiro valoriza excessivamente o diploma. Mesmo aquele diploma que não vem acompanhado de um conhecimento ou de um saber-fazer real. E o que mais tem por aqui é gente que não consegue aplicar seu suposto conhecimento em problemas e situações reais. Também não consegue se conectar com outras pessoas para agir em prol da sociedade.
Isso é um gargalo enorme para o país. Enquanto o jogo no hemisfério norte já é jogado de maneira totalmente diferente, aqui ainda mantemos essa mentalidade.
No Ensino Básico, ainda não conseguimos sair de uma lógica de universalização da escolarização. No fundo, ainda estamos perseguindo essa meta, que já deveríamos ter superado com folga no século passado. As incipientes políticas que tratam de qualidade utilizam métricas simplistas, que não dão conta dos desafios de um cidadão do século 21.
No Ensino Superior, temos um contrato de mediocridade onipresente até mesmo nas melhores instituições de ensino. O professor finge que ensina e o aluno finge que aprende. Além disso, criamos, quase que automaticamente, reservas de mercado para esses diplomados que sempre fingiram que aprenderam.
Assim vamos criando uma ilusão de sucesso baseada na busca incessante por títulos. É uma ilusão nos níveis individual, familiar e de projeto de nação. Há um espaço enorme para iniciativas que busquem valorizar e legitimar o conhecimento adquirido na prática, na aprendizagem informal. Mais cedo ou mais tarde, a bolha dos diplomas estoura e quem realmente realiza leva vantagem.