Ganha repercussão nacional uma questão interna da Procuradoria-Geral da República, que pode fragilizar a Operação Lava-Jato e favorecer os suspeitos de envolvimento com a corrupção. Por iniciativa da subprocuradora-geral Raquel Dodge, uma das candidatas à sucessão de Rodrigo Janot, o Conselho Superior do MP propõe que seja fixado em 10% o limite de transferências de procuradores a outras áreas por necessidade de serviço. A resolução, que já conta com votos favoráveis de sete dos 10 conselheiros, terá o efeito prático de desmantelar a equipe de procuradores federais que assessoram Janot e que já estão familiarizados com os processos em andamento. O retardamento é tudo o que os advogados dos réus desejam para procrastinar julgamentos e conseguir que as ações penais de seus clientes prescrevam.
Por isso, a proposta provocou reação forte de Rodrigo Janot, que atualmente conta com sete auxiliares requisitados de instâncias inferiores. Tudo indica que questões corporativas e vaidades estão sendo colocadas acima dos interesses do país e da própria missão do Ministério Público. E não se pode desconsiderar a possibilidade de que tal manobra tenha origem no estamento político, que vem articulando sub-repticiamente maneiras de sabotar a Operação Lava-Jato.
O procurador-geral da República fez bem em dar visibilidade à questão, pois assim a população brasileira pode acompanhar de perto uma disputa corporativa com potencial para interferir na maior investigação de fraudes da história do país. O que ocorre nos bastidores do poder é do interesse de todos, pois a transparência, definitivamente, passou a ser um poderoso antídoto para a corrupção.