Sim! Sempre só para os pobres: os alunos de escolas públicas.
Os filhos de ricos até cinco anos já estão lendo e escrevendo. Por quê? Por terem oportunidades de verem pessoas para eles significativas – pai, mãe, irmãos, avós, tios... – lendo e escrevendo. Por terem convivido com muitos materiais escritos no seu dia a dia – jornais, revistas, livros...
E os filhos dos 50 milhões de analfabetos adultos de onde vão tirar essas oportunidades?
Esquecer essa enorme diferença é um crime. Sobretudo porque é possível compensá-la – a falta de ambiente alfabetizador – com uma proposta didática, já amplamente comprovada em todos os Estados brasileiros e inclusive em outros países, como Colômbia e Cabo Verde.
Tamponar esta diferença, prolongando o tempo para que as escolas públicas alfabetizem, é completamente ineficaz. Sara Pain, a grande pensadora sobre o aprender, já há muito nos adverte: "O tempo é inimigo das dificuldades de aprendizagens".
A orientação até hoje vigente, de que a alfabetização pode ser feita até o 3º ano do Ensino Fundamental, levou a que o MEC determinasse avaliação de aprendizagens somente no final do 3º ano. Nela não apareceu uma realidade que a Secretaria de Educação do município de Teresina pôde evidenciar. Lá, estão sendo feitas avaliações no 1º, no 2º e no 3º ano. O que se evidenciou? Um certo número de alunos se alfabetiza no 1º ano. Apenas 15% se alfabetizam no 2º ano e nenhum se alfabetiza no 3º.
Explicam esses dados a constatação de que, para aprender num grupo, é preciso um núcleo comum de conhecimentos. Quando se promove automaticamente alfabetizados e não alfabetizados para o 2º e para o 3º, ano não se assegura este núcleo comum, aliás se o destrói. E os não alfabetizados cada vez têm mais dificuldade de aceder à ventura de curtir a escrita, condenados a esta terrível marginalização cidadã. Não ler neste terceiro milênio é "estar fora da casinha". É ser estrangeiro na sua própria pátria.
E, então? É preciso e possível alfabetizar no 1º ano. Vamos lá gente! Está mais do que comprovado cientificamente que se pode fazê-lo.