Tem grande significado para a Operação Lava-Jato a recente decisão do Supremo Tribunal Federal de aceitar denúncia contra o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), acusado de receber doação legal para sua campanha, mas como pagamento de atos ilícitos. Ou seja: prevaleceu a tese da Procuradoria-Geral da República de que muitas contribuições oficiais a campanhas de políticos, mesmo registradas na Justiça Eleitoral, estavam servindo como lavagem de dinheiro de propina. No caso do senador peemedebista, os R$ 500 mil doados pela empreiteira Queiroz Galvão para sua campanha de 2010 seriam uma compensação pelo apoio político para manter Paulo Roberto Costa como diretor de Abastecimento da Petrobras.
Embora não seja ponto consensual no Supremo, pois há ministros que condicionam o crime ao conhecimento da origem ilícita do dinheiro por parte do receptor, a maioria concorda que recursos de propina têm sido utilizados como doação oficial. A prevalecer esse entendimento, desfaz-se completamente a tese da defesa coletiva dos políticos que receberam doações de empreiteiras investigadas pela corrupção na Petrobras. Políticos e partidos vêm alegando que uma doação oficial aprovada pela Justiça Eleitoral é um ato jurídico perfeito, não podendo ser considerada como indício ou prova de ilicitude.Os parlamentares e seus defensores alegam que todo o sistema eleitoral ficará comprometido se a visão dos investigadores da Lava-Jato for chancelada pelo Supremo. O caso de Valdir Raupp é bem específico, pois há telefonemas gravados, registros de reuniões e depoimentos de testemunhas a respeito das contrapartidas garantidas pelo político ao doador. Mas a questão merece ser considerada em toda a sua amplitude: se o sistema está viciado, que fique comprometido e que os beneficiários da fraude travestida de legalidade sejam responsabilizados pela falsa esperteza.