Recentemente, voltou à pauta o debate sobre onde se postam os radares móveis da EPTC nas ruas de Porto Alegre. Para alguns, é descabido posicionar os agentes em local onde não se possa visualizá-los claramente. Enquanto que para outros, a ideia é justamente escondê-los, já que a velocidade da via deveria ser respeitada independentemente da presença de um radar.
E este é o cenário onde surge o argumento de que existe uma "indústria da multa". Diz-se que a sanha arrecadatória dos órgãos fiscalizadores é incontrolável. Pois bem, fui atrás de números. Através de contato com a assessoria de comunicação da EPTC, consegui um conjunto interessantíssimo de estatísticas de autuações. Vou me concentrar apenas em 2016, para facilitar a análise.
Naquele ano, foram quase 564 mil autuações. Deste total, aproximadamente 265 mil foram registradas por meio eletrônico (lombadas, radares e pardais). As outras 298 mil são autuações emitidas por agentes de trânsito. Isso é muito ou pouco? Vamos analisar este número por partes. Sabendo que Porto Alegre tem 829 mil veículos em sua frota, seria pouco mais de meia multa por veículo ao longo do ano. Se você foi autuado duas vezes em 2016, por exemplo, outros três veículos não receberam multa, na média.
Levando em conta apenas as autuações por agentes, foram 817 autuações por dia em Porto Alegre. Como, segundo a EPTC, existem 511 agentes no quadro, cada um deles aplicou em média 1,5 multa por dia. A máxima de que os agentes "só multam" parece não se sustentar com esta média.
Para finalizar, vamos observar apenas uma infração: não dar preferência ao pedestre na faixa de segurança. Foram 1.112 autuações em 2016 – ou seja, três multas por dia. Se você parar junto a uma faixa de segurança em uma via minimamente movimentada, para atravessar a rua, quantos veículos você acha que não respeitariam a sua preferência em um intervalo de cinco minutos? Infelizmente, sabemos que seriam mais de três. E se estamos falando de uma única faixa, por cinco minutos, imagine a média de um dia inteiro na Capital toda!
Os números, em uma análise rápida, corroboram o que a selvageria do nosso trânsito ilustra diariamente: não há indústria da multa. Pelo contrário, os números são modestos. Precisamos educação, sim. Mas, também precisamos fiscalização para coibir as infrações de forma efetiva.