
Agiu com coragem e firmeza a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ao homologar as delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht no âmbito da Lava-Jato. Ao fazer uso de suas prerrogativas para dar andamento célere à investigação, como solicitara o procurador-geral da República Rodrigo Janot, a presidente da Corte Suprema atende, acima de tudo, aos anseios da nação pela continuidade da operação que começa a atingir o núcleo político do esquema delituoso. Mantém, assim, antes mesmo da escolha do novo relator, o ritmo responsável e fundamentado que vinha sendo implementado pelo falecido ministro Teori Zavascki.
Falta ainda resolver a questão da manutenção do sigilo das delações, que ficou para ser resolvido pelo novo relator, a ser sorteado nesta semana. O tema preocupa o Planalto, interessado em evitar turbulências políticas às vésperas da decisão sobre o novo comando da Câmara e do Senado. A própria Odebrecht gostaria de ganhar tempo para atenuar os prejuízos provocados pelas denúncias de pagamento de propina em 12 países, incluindo o Brasil. Mas os cidadãos brasileiros querem saber quem efetivamente se beneficiou dos desvios de recursos públicos para financiar suas campanhas eleitorais ou mesmo para aumentar o patrimônio.
Seria frustrante para o país se, depois da inesperada morte do relator da operação no STF, os trabalhos fossem descontinuados ou enfrentassem um atraso além do previsto. A presidente do Supremo demonstrou ter consciência dessa expectativa, ao chancelar o pedido dos procuradores, reduzindo as razões para desconfianças. Espera-se, agora, que o novo relator, tão logo seja confirmado, continue dispensando ao assunto igual tratamento.