Os níveis de atividade econômica ainda não mostraram retomada – nem sequer demonstraram claramente que pararam de piorar. Iniciadas em 2016, mudanças que estão sendo propostas são arroladas nos chamados "pacotes de ajuste". A política econômica está passando por um processo de reorientação, ensaiando uma volta ao tripé macroeconômico que havia ficado de lado.
Apesar de uma decisão relativamente surpreendente do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira, de cortar 0,75 ponto percentual na taxa Selic, a sua posição tem sido bastante conservadora no intuito de manter um controle ostensivo sobre o processo inflacionário. De outro lado, o Ministério da Fazenda vem propondo com intensidade o ajuste fiscal: como PEC dos gastos e reforma da Previdência.
Essas medidas estão alinhadas com um receituário bastante austero, que mira, quero crer, a retomada sustentável da atividade econômica em um ambiente mais estimulante ao investimento produtivo. A formação de expectativas positivas, no entanto, arrefeceu nos últimos meses, seja pela dúvida sobre a eficácia das reformas ou pela sua demora na tramitação – além das questões políticas envolvidas.
Agora, perceba que até poucos dias atrás, as medidas de ajuste econômico quase não tratavam da demanda. Com o tempo, o governo parece ter percebido que um estímulo expansionista também é importante para complementar, com a adequada calibragem, a penúria do ajuste fiscal e aperto monetário.
Para se ter uma ideia de como isso cresceu nos últimos dias, uma das justificativas na ata do Copom para o corte de juros mais expressivo foi a inesperada lentidão da retomada da atividade econômica. Ou seja, o próprio Copom, que deveria mirar exclusivamente o controle da inflação, aponta que o nível de atividade econômica preocupa. Além disso, tivemos a liberação do saque dos recursos do FGTS de contas inativas, que serão um estímulo direto à demanda.
A essa mescla de políticas, algo erráticas, associa-se a falta de comunicação de um plano de desenvolvimento claro. Políticas educacionais, por exemplo, continuam sendo discutidas apenas quando um aperto aparece. Questões que afetam diretamente a produtividade, como telefonia e segurança pública, da mesma forma. Ainda precisamos aprender a conectar as políticas a um plano de mais longo prazo.