No dia 2 de fevereiro, Porto Alegre celebrará mais um feriado de Navegantes. Nessa que é considerada uma das capitais mais secularizadas do Brasil, se encontrará uma multidão de pessoas ocupando o centro da cidade e caminhando em direção ao Santuário. O título Nossa Senhora dos Navegantes remonta ao tempo das Cruzadas na Idade Média, quando portugueses e espanhóis atravessavam o Mar Mediterrâneo em direção à Palestina para proteger os lugares sagrados da Terra Santa. Eles invocavam a Virgem Maria para que ficassem livres dos males e perigos. Ao chegarem ao porto, salvos das tempestades, elevavam preces e construíam capelas para venerar a santa.
A festa é uma das maiores expressões da religiosidade sincrética de Porto Alegre. Devotos de diversas etnias, credos, idades e culturas se encontram e seguem o mesmo rumo, guiados pelo barco-andor. Nele está a imagem de Nossa Senhora, esculpida em madeira por um artista português em 1913.
Em 2017, na 142ª edição, novamente haverá pessoas oferecendo flores e velas, preces e promessas, súplicas e agradecimentos. Além dessa intensa manifestação religiosa, seria muito bom erguer os olhos e o coração para o alto e suplicar que Nossa Senhora ilumine, qual farol luminoso, a noite escura e o mar bravio que desafiam diariamente a Região Metropolitana.
Os navegantes de nosso tempo não enfrentam Cruzadas, tampouco atravessam o Mediterrâneo, contudo, travam uma batalha cotidiana para sobreviver à violência que não conhece mais limites. O mesmo olhar que eleva os olhos para rezar deve ser baixado para tanger as realidades que clamam pela justiça, pela promoção do bem comum e pela garantia da dignidade de todo ser humano. Há desafios dos contextos sociais, políticos e culturais. Mas é preciso também cuidar da interioridade, para que a ferocidade não domine o ser humano.
Celebrar Navegantes, nessa conjuntura, é perceber que as muitas formas de crer não podem se dividir quando a vida está ameaçada. Um ponto deveria unificar os romeiros: é urgente construir um porto mais seguro e mais feliz. Não bastam boas intenções, é preciso esforço comum, pois a fé remove montanhas e é capaz de ser um dos fatores eficazes na promoção da paz.