Há uma sede por "boas notícias" para a economia em 2017. Alguns indicadores como a confiança de consumidores e de empresários começam a apresentar sinais de vida. Resultados ainda derivados do otimismo com a mudança de governo. No entanto, os projetos encaminhados ao Congresso ou instalados por decisões de gestão e medidas provisórias pelo governo Temer levantam dúvidas sobre a credibilidade e eficácia dos mesmos.É paradoxal que projeções sobre o crescimento do PIB para 2017 cheguem em 1% _ o que poderá se confirmar _ diante de um conjunto de indicadores que consolidam um cenário econômico ainda muito difícil. Talvez inflado por um certo otimismo emparelhado com análises contaminadas por posições ideológicas, mas sem lastro em fundamentos econômicos. Mesmo que haja um crescimento tipo "voo de galinha" _ como os economistas apelidaram expansões pequenas e insustentáveis do PIB _, as projeções apontam para um cenário ainda sem soluções. O diagnóstico, há anos, nos aponta para a necessidade de reformas estruturais que aumentem a competividade do país, mas não há movimentos concretos neste sentido.Ao analisar apenas uma proposta como a PEC 241 que congela gastos públicos, ouvem-se aplausos dos que defendem o ajuste fiscal pela ótica do gasto. Porém, cabe perguntar: não é incoerente congelar os gastos exatamente pelo topo? Não criticávamos sua expansão insustentável nos últimos anos e agora consolidaremos o modelo?Os equívocos das políticas econômicas do governo Dilma foram tantos que sua saída pode sim ter despertado melhoras em expectativas no mercado, sobretudo, porque os tomadores de decisão de investimento se engajaram neste processo. E muito do crescimento da economia depende concretamente desta variável subjetiva chamada expectativa.No entanto, a construção de um processo de crescimento sustentado passa pela consolidação de um modelo de desenvolvimento de longo prazo que viabilize, desde já, estratégias em direção a um projeto de país. O simples apoio de agentes econômicos que comandam o mercado não será suficiente para cumprir esta trajetória. E o PIB nos ensinará que não é ideológico.
Artigo
Leandro de Lemos: é o PIB ideológico?
Economista, professor da PUCRS
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