Existe o argumento de que a desigualdade, por si só, não é algo com que se preocupar. O que importa é a pobreza absoluta. Isso faz sentido. Desde que as pessoas vivam dignamente, as diferenças de riqueza entre elas seriam consequência de características pessoais, como educação e esforço. E neste contexto, às vezes, diz-se que o crescimento econômico funcionaria como o motor de qualquer evolução nestas dimensões: uma economia que cresce, reduz pobreza e melhora a distribuição de renda.
Mas a realidade é mais complexa do que isso. A redução da pobreza induzida pelo crescimento econômico, sozinho, é modesta. É mandatório um conjunto de fatores operando na sociedade para que o crescimento econômico beneficie os mais pobres de maneira efetiva – gerando o chamado crescimento pró-pobre. Um destes fatores é o próprio padrão do crescimento.
Para que os mais pobres sejam beneficiados com o crescimento econômico, é necessário que eles sejam diretamente envolvidos na dinâmica econômica. Mais do que simplesmente empregados, eles precisam ser demandados enquanto elementos centrais do processo produtivo, para receberem a devida importância e remuneração. Por essa razão, a atividade econômica intensiva em mão de obra, por exemplo, tem efeitos mais rápidos, no curto prazo, sobre a redução da pobreza. Além disso, frequentemente, também se observa melhoria na distribuição de renda, neste caso.
E aqui reside um ponto central: a desigualdade na distribuição da renda, na largada, é um dos principais limitantes do crescimento pró-pobre. Em economias muito desiguais, como a do Brasil, o crescimento econômico tem dificuldades tremendas em alcançar os mais pobres, que acabam atuando como figurantes. Mas, como a dinamização da economia é necessária, de qualquer modo, o Estado passa a ser responsável por construir mecanismos que possam corrigir esta desigualdade excessiva, enquanto a economia cresce.
Todas as reformas que estão sendo discutidas, especialmente a trabalhista, devem almejar o equilíbrio fiscal e a melhoria do ambiente produtivo da economia. E elas representam, justamente, alguns desses mecanismos de ação do Estado sobre distribuição de renda e crescimento pró-pobre. No final das contas, o que estamos discutindo é o padrão de crescimento econômico futuro do país. A discussão precisa ser séria e ampla.