Pesquisa do Instituto Datafolha constatou que 63% dos brasileiros acreditam que os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que começam em duas semanas, trarão mais prejuízos do que benefícios ao país. Esta visão negativa tem relação direta com o momento de crise econômica e política por que passa o Brasil, mas também resulta da dupla frustração gerada pela Copa do Mundo de 2014, com retorno insuficiente para os gastos realizados e vexame histórico no campo esportivo. Mesmo assim, o Brasil tem o dever de encarar o desafio de promover dignamente os eventos que se comprometeu a realizar em 2009, ainda no governo Lula, quando o Rio de Janeiro superou Chicago, Tóquio e Madri para se tornar a primeira cidade da América do Sul a organizar uma Olimpíada.
Há realismo, mas também há demagogia na campanha pelo boicote. É fácil de dizer que os recursos empregados na construção de praças esportivas, na infraestrutura da cidade olímpica e na proteção dos visitantes poderiam ser melhor aplicados para suprir carências de serviços básicos como saúde, educação e a própria segurança. Mas nem sempre existe relação direta entre uma coisa e outra. O auxílio financeiro do governo federal ao Rio de Janeiro, por exemplo, só ocorreu porque o país precisa honrar o seu compromisso internacional.
Não é o dinheiro dos Jogos Olímpicos que vai resolver os problemas do país. É a gestão. Quando União, Estados e municípios forem bem administrados, quando houver efetivo controle dos cidadãos sobre os gastos públicos, quando a corrupção for erradicada, o Brasil terá mais tranquilidade para se tornar um protagonista respeitado na comunidade internacional. A competição olímpica tem um valor simbólico que não pode ser desconsiderado. Representam uma trégua nos conflitos e nas dificuldades, para que os povos de todo o mundo confraternizem através do esporte. Se conseguirmos realizar com êxito um evento desta dimensão, estaremos demonstrando, mesmo em meio à atua crise, que temos potencial para construir um futuro melhor.