Durou pouco a sensação de alívio dos brasileiros com a renúncia do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, por incrível que pareça, ainda articula para salvar o seu mandato. Já no dia seguinte ao anúncio, o presidente em exercício da Câmara fez valer o que o próprio Cunha classificou de "interinidade bizarra" e partiu para a retaliação. Contrariando o colégio de líderes, que havia marcado a nova eleição para amanhã, o deputado Waldir Maranhão confirmou o pleito para a próxima quinta-feira. Fez mais: demitiu o diretor da Secretaria-Geral da Mesa, Sílvio Avelino, que tinha sido nomeado para o cargo por Cunha.
Mas a guerra entre o interino e o ex-presidente tem menor significado diante da verdadeira batalha deflagrada pelo comando da Casa, principalmente porque o presidente da Câmara, se o impeachment de Dilma Rousseff for confirmado, passará a ser na prática o vice-presidente da República. Não se pode estranhar, portanto, que pelo menos 15 parlamentares pleiteavam o cargo até o final de semana. Desses, 13 fazem parte da base aliada do presidente interino Michel Temer.
Articulações políticas e composições partidárias são normais em disputas como essa. O que não pode ser considerado normal, nem digno, é a troca de votos por cargos, verbas e qualquer outro tipo de vantagem particular conflitante com os interesses coletivos da nação. Neste momento de turbulência política e depois da constrangedora administração de Eduardo Cunha, os brasileiros anseiam por parlamentar experiente, responsável e ético no comando da Câmara.